Uma montanha recebeu o estatuto de pessoa (e responde perante a lei)

Geoff J Mcka / Flickr

O monte Taranaki, na Nova Zelândia

Sim, é literalmente uma pessoa, sim, é uma montanha. E não é a primeira vez que acontece na Nova Zelândia — o motivo é político.

Uma montanha na Nova Zelândia recebeu o título de pessoa. Não, não é figurativo: a partir de agora, a montanha passa mesmo a ter uma personalidade jurídica, direitos e deveres, conta a CNN.

A sua “pessoa” chama-se Te Kāhui Tupua, bem diferente do nome original da da montanha, monte Taranaki. A lei foi aprovada por unanimidade pelos 123 deputados do Parlamento.

Agora, uma entidade composta por quatro membros da tribo Māori local e quatro indivíduos nomeados pelo Ministro da Conservação do país será “o rosto e a voz” da montanha, de acordo com a lei.

O Taranaki é bastante popular para caminhadas e desporto, sendo o segundo mais alto da Ilha do Norte da Nova Zelândia, com 2.518 metros de altitude. Agora, é considerada pessoa, “incorporando todos os seus elementos físicos e metafísicos”.

Na verdade, esta não é a primeira vez em que um elemento da natureza é considerado pelo Estado neozelandês como uma pessoa: já existe um rio, o  Whanganui, e uma extensão de terra considerada “sagrada” para o povo Māori que o são, por lei.

Para que serve esta atitude do governo?

Esta é uma medida adotada pelo Estado neozelandês como forma de “recompensar” as tribos Māori pelos danos causados ao longo da história do país.

“Há muito que a montanha é um antepassado honrado, uma fonte de sustento físico, cultural e espiritual e um local de descanso final”, disse Paul Goldsmith, o legislador responsável pelos acordos.

Em 1770, o explorador britânico Capitão James Cook avistou o pico da Taranaki a partir do seu navio e chamou-lhe Monte Egmont. Ao longo dos séculos, a coroa neozelandesa terá colonizado e violado consecutivamente os direitos do povo Māori.

Em 1865, por exemplo, uma vasta faixa de terra de Taranaki que pertencia a este povo, incluindo a montanha, foi confiscada para punir os Māori por se terem rebelado contra a Coroa.

Ainda atualmente, explica o legislador, “as práticas tradicionais Māori associadas à montanha foram proibidas, ao passo que o turismo foi promovido”.

“Hoje, Taranaki, a nossa maunga tupuna (“montanha ancestral”), é libertada dos grilhões da injustiça, da ignorância, do ódio”, disse Debbie Ngarewa-Packer, co-líder do partido político Te Pāti Māori e descendente das tribos de Taranaki.

ZAP //

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