Um faraó egípcio decidiu eternizar para sempre os seus feitos históricos — foi o princípio dos retratos.
Corria o século 27 a.C., e o faraó egípcio Khasekhemwy, da 2ª dinastia, conseguiu a proeza de unificar o Alto e o Baixo Egito, após um período de instabilidade.
Decidiu,então, presentear-se a si próprio pelas suas conquistas: mandou fazer duas estátuas que o representassem, tornando-se no primeiro faraó a encomendar a sua própria imagem.
Mas não só: as estátuas de pedra, uma calcário e outra de xisto, que encomendou tornaram-se nas primeiras de que há registos a representar uma figura histórica real.
Como realça o LBV, nas duas figuras, descobertas entre 1897 e 1898 no templo de Hierakonpolis, o faraó surge a utilizar uma longa túnica do festival de renovação real Heb Sed e a coroa branca do Alto Egito. Em nenhum túmulo de faraós do Antigo Egito foi descoberta uma coroa branca, pelo que se acredita que esta possa ter sido passada de geração em geração pela realeza egípcia.
As duas estátuas, com aproximadamente 62 centímetros de altura, estão em exibição em lugares diferentes: uma no Museu Ashmolean, no Reino Unido, e outra no Museu Egípcio do Cairo, tendo esta última perdido metade da cabeça, ainda que se encontre em bom estado de conservação.
A base de ambas as estátuas representa uma campanha militar conduzida pelo rei contra os habitantes do Delta, e é inclusivamente possível ler o número de inimigos mortos pelo exército do rei: 47 209, número que atualmente se considera inflacionado.
Este faraó foi pioneiro na representação em pedra de figuras históricas, papel até então apenas reservado a divindades ou figuras mitológicas. De acordo com o LBV, este elevar da fasquia permitiu ao monarca divinizar-se a si mesmo, tornando-se num espécie de “deus vivo”.
A postura sentada, para além de permitir uma utilização mais eficiente dos blocos de pedra, transmite ainda uma posição de autoridade, e o monarca parece pronto a levantar-se a qualquer momento para atacar os inimigos.
Ao longo das várias dinastias egípcias, a pose foi repetida, e os faraós (e não só) adotaram a encomenda dos seus auto-retratos como prática recorrente — até hoje.