Por pensarem contra a polis, morriam. Era a regra no Império Romano. E, para quem tem como mote a apatia, estes pensadores lutaram muito por uma causa.
No século XX, um dos poetas portugueses mais influentes de todos os tempos escrevia, sob o pseudónimo de Ricardo Reis: “Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio / Mais vale saber passar silenciosamente / E sem desassossegos grandes”.
Eis, sob a mão de Fernando Pessoa, a definição de estoicismo: o abandono das paixões e da entrega à vida para alcançar a ataraxia (uma espécie de apatia). No fundo, é melhor, para os estoicos como Ricardo Reis, ficar a ver a vida a passar por nós, sem que levemos dela emoções muito fortes, para que na hora da morte ou da amargura não sintamos muita dor.
Mas, na verdade, o estoicismo surgiu muito antes de Pessoa, muito antes de Portugal e antes até de Jesus Cristo. Nasceu, sim, no seio da Grécia antiga, no século III A.C., por formulação do filósofo Zeno de Cítio.
O termo “estoicismo”, conta o LBV, deriva do local onde Zeno ensinava, a Stoa Poikile, em Atenas. A doutrina, que coincide com o período helenístico, durou cerca de meio milénio, até ao século II d.C.
O movimento cresceu e acabou por ser defendido por figuras históricas como Catão e até mesmo o “imperador filósofo” Marco Aurélio que, ao contrário dos outros, que repudiavam o estoicismo, aderiu À corrente de pensamento.
A partir do século II, para os lados do Império Romano, os estoicos deixaram, no entanto, de ser imperturbáveis: esta corrente de pensamento passou a opor-se fortemente à polis (a cidade-estado), defendendo ao invés o cosmopolitismo, que faria dos homens cidadãos iguais no mundo.
No entanto, os investigadores acreditam que este ódio à polis podia advir de uma reação político-social, uma vez que muitos destes filósofos pertenciam à classe senatorial, privados dos seus privilégios.
O termo “oposição estoica” só foi definido pelo historiador e filólogo francês Gaston Boissier no século XIX. Mas o que se verificou na Roma Antiga foi uma verdadeira luta interna entre os estoicos e os imperadores.
A verdadeira perseguição começou no tempo do imperador Nero com Rubellius Plautus, senador consular da dinastia Julio-Claudiana, acusado pelo imperador de sedição (revolta contra o regime) e intriga, sendo expulso para a Ásia Menor. Acabou por ser assassinado.
O ror que se seguiu foi incontável: centenas de outros estoicos, por se oporem ao sistema político instituído, acabaram mortos, alguns bem conhecidos da História, como o filósofo Séneca (que tinha inclusivamente sido tutor do imperador).
Este pensador acabou ser obrigado a cometer suicídio, a par do seu sobrinho Lucano.
Depois, o governo de Vespasiano prosseguiu a política anti-estoica, ao mesmo tempo em que esse movimento de oposição estava a ser liderado por Helvidius Priscus.
Priscus defendia fortemente o senado, a que Vespasiano se opunha fortemente. Acabou expulso de Roma e, mais tarde, assassinado.
Séneca dizia que “aquele que teme a morte nunca fará nada digno de um homem que está vivo”, referindo-se à inércia e falta de propósito que um homem deve ter para não sofrer, de acordo com o estoicismo clássico.
Para quem temia a morte, a oposição dos estoicos foi arriscada. Para quem não está vivo, o abanão político que estes filósofos deram ainda hoje se conta, e fez História.