Amnésia total. Matemático revela estranhos enigmas para quem viaja no tempo

ZAP // NightCafe Studio

As leis da Física não querem saber se o tempo anda para trás ou para a frente: nada impede as viagens do tempo. Mas, de acordo com um novo estudo, essas mesmas leis implicam que os viajantes do tempo teriam as suas memórias apagadas… e os relógios não funcionariam.

Primeiro, as boas notícias para quem viaja no tempo. Os físicos há muito que reconheceram que nada nas leis da Física proíbe especificamente as viagens no tempo.

Tanto quanto se sabe, estas leis não querem saber se o tempo está a correr para a frente ou para trás; funcionam igualmente bem de qualquer forma.

Este reconhecimento deu origem a numerosos estudos, alguns dos quais surpreendentemente sérios, para testar os limites da causalidade.

Nessa demanda, os físicos tentaram tudo, desde dobrar o tecido do espaço-tempo até explorar a incerteza quântica para viajar para trás e para a frente no tempo. Chegaram mesmo a testar algumas destas ideias.

Mas nada parece funcionar. De facto, alguns dos esquemas requerem condições decididamente não físicas que tornam improvável que alguma vez sejam testados.

No entanto, salienta a Discover Magazine, os mais entusiastas recordam sempre que ainda não foi provado que as viagens no tempo são impossíveis.

Perda de memória

Agora as más notícias, que vêm de Lorenzo Gavassino, matemático da Universidade de Vanderbilt, em Nashville, que descobriu alguns efeitos colaterais das viagens no tempo até agora nunca abordados.

O matemático milanês sustenta que as leis da Física podem não proibir as viagens no tempo, mas se estas forem possíveis, essas mesmas leis levam a algumas consequências estranhas — uma das quais é que qualquer ser humano que fizesse a viagem não seria capaz de se lembrar dela.

As leis da física sugerem que a memória dessa pessoa seria apagada assim que ela voltasse ao presente. Então, como é que as leis da Física levam a esta conclusão dececionante?

A responsável é uma só lei — a Segunda Lei da Termodinâmica, segundo a qual a entropia, ou desordem, de qualquer sistema aumenta sempre com o tempo.

Ao contrário das outras leis da Termodinâmica, a segunda lei distingue entre o tempo que corre para a frente e para trás. Ovos partidos nunca se restauram, o café com leite nunca mais volta a ser leite e café, e assim por diante.

Numa série de experiências teóricas, Gavassino mostrou as consequências significativas das leis da Física para uma nave espacial que transporte um viajante do tempo num caminho circular através do espaço-tempo — por outras palavras, uma viagem de regresso ao mesmo instante no tempo.

Uma caraterística fundamental desta viagem circular é o facto de a entropia ter de ser a mesma no início e no fim — porque o viajante regressa ao seu estado original. Assim, se a entropia aumenta ao longo do tempo, tem de haver um ponto no círculo em que atinge o máximo antes de regressar ao seu valor original.

Gavassino considera que as consequências para o viajante do tempo na nave espacial que passa para além deste ponto de entropia máxima são claras: “todos os processos termodinâmicos, incluindo os processos biológicos como a formação da memória e o envelhecimento, são revertidos“.

“As memórias de um observador dentro da nave espacial são necessariamente apagadas no final da viagem“, conclui Gavassino, num estudo recentemente pré-publicado no ArXiv.

Um aspeto particularmente fascinante apresentado pelo matemático italiano no seu artigo envolve o comportamento dos relógios durante as viagens no tempo. Gavassino demonstra que os relógios não funcionariam como esperado.

Para que um relógio regresse ao seu ponto de partida após uma viagem completa, tem de funcionar a uma frequência que produza um número inteiro de “tiques” durante a viagem.

Este requisito pode introduzir “defeitos” subtis nos relógios concebidos para o tempo linear padrão, tornando as suas medições pouco fiáveis numa curva temporal fechada.

E uma vez que o mesmo argumento se aplica às vibrações normais das moléculas e dos átomos, isto levanta a possibilidade de uma perturbação generalizada da existência normal da matéria numa curva temporal.

As descobertas de Gavassino têm implicações significativas para a nossa compreensão do tempo e da causalidade. Embora o estudo não determine se a viagem no tempo é possível, lança luz sobre as condições rigorosas que devem ser satisfeitas em tais cenários.

Num universo com curvas temporais próximas, as viagens no tempo não se assemelhariam às aventuras livres da ficção científica. Em vez disso, os viajantes confrontar-se-iam com um mundo governado por uma auto-consistência rígida, memórias apagadas e causalidade interrompida.

Naturalmente, os aspirantes a viajantes do tempo irão procurar potenciais lacunas no raciocínio de Gavassino. Uma possibilidade é que, embora a segunda lei da termodinâmica se aplique a um sistema como um todo, não tem necessariamente de se aplicar às suas partes.

Por exemplo, pode haver uma forma de algumas partes de um sistema termodinâmico diminuírem a sua entropia enquanto as restantes aumentam, de modo a garantir que a entropia total mantém as condições exigidas pelas leis da Física.

Naturalmente, os verdadeiros viajantes do tempo, que andam a passear entre nós vindos de outros séculos, terão concluído há muito que Gavassino deve ter deixado escapar alguma coisa.

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