A flexibilidade no trabalho é um tema que está na ordem do dia e há várias tendências no mercado de trabalho actual. Mas o que poderemos esperar para o futuro próximo?
Actualmente, os trabalhadores prezam mais do que nunca a flexibilidade no trabalho. A pandemia de covid-19 veio implementar uma série de hábitos que muitos colaboradores de empresas querem manter, ou mesmo reforçar.
É, neste contexto, que surge um novo conceito de “horários self-service” no trabalho. Esta “proposta inovadora” pode “transformar profundamente a relação entre trabalho e vida pessoal, colocando a autonomia dos colaboradores no centro da gestão laboral”, analisa o economista José Pedro Fernandes num artigo de opinião no jornal online Eco.
Fernandes que é vice-presidente da SISQUAL WFM, empresa portuguesa que vende soluções para a gestão das equipas de trabalho, realça que os “horários self-service” são mais do que “uma simples questão de conveniência” e do que interessa aos funcionários.
“Trata-se de uma mudança significativa na forma como equilibramos as demandas profissionais com as necessidades pessoais”, aponta.
Mas o que são horários self-service?
“Em vez de horários rígidos e imutáveis, este modelo propõe uma organização em que os trabalhadores possam participar activamente na definição das suas escalas, solicitando ajustes antecipados que respeitem o seu bem-estar e as suas responsabilidades fora do ambiente de trabalho”, explica Fernandes no Eco.
Este tipo de flexibilidade pode ser aplicado “em sectores com escalas rotativas ou horários variáveis, como o retalho, a saúde ou a hotelaria”, onde, por vezes, é difícil conciliar o trabalho com a vida pessoal, o que é motivo de “stress e insatisfação”, acrescenta ainda o economista.
“Ao permitir que os colaboradores participem na definição dos seus horários, o ambiente de trabalho torna-se mais inclusivo e humano, promovendo a satisfação e, consequentemente, a retenção de talentos”, constata também.
Uma mudança de paradigma
Tradicionalmente, os horários de trabalho sempre respeitaram os interesses e as necessidades do empregador. Mas “a era em que as empresas ditavam os horários de forma unilateral está a chegar ao fim“, prevê Fernandes.
A flexibilidade horária oferece a oportunidade para construir uma nova realidade laboral, onde a flexibilidade, a autonomia e o bem-estar são prioridades.
Esta mudança pode levar a uma “re-humanização”, com “uma maior personalização” e com a vida pessoal dos trabalhadores a ser “um factor tão importante quanto as exigências produtivas”, analisa ainda Fernandes.
O que é preciso para ter horários self-service?
Além de mudanças na legislação laboral e nos métodos de avaliação do trabalho nas empresas, é importante contar também com as novas tecnologias para poder implementar um horário “self-service”.
“Actualmente, muitos sectores ainda se baseiam numa métrica de tempo para avaliar a produtividade“, sublinha Fernandes no Eco. Esse constitui um dos desafios a ultrapassar.
Mas acima de tudo, a implementação desta nova abordagem precisa de uma mudança de “chip” na cultura organizacional, bem como de uma preparação prévia dos trabalhadores e das próprias empresas.
Um artigo publicado pela revista de gestão Harvard Business Review (HBR), afiliada da conceituada Harvard Business School, aconselha as empresas a capacitarem os colaboradores “para criar e gerir a sua própria flexibilidade“.
Casos de sucesso na saúde e na aviação
Algumas indústrias já estão “a criar processos de auto-gestão dos colaboradores que dão aos trabalhadores um maior controlo sobre os seus horários sem penalização”, refere ainda a HBR.
Também na área da saúde há casos de aplicação dos horários “self-service”. Um estudo sobre o “auto-agendamento” de horários entre enfermeiros em cinco unidades médicas e cirúrgicas nos EUA, concluiu que “a satisfação e a retenção dos colaboradores aumentaram”, como cita a HBR.
Mas para que o processo funcionasse foi preciso “educar” os enfermeiros sobre competências de negociação, ajustando “as directrizes para atender às necessidades”, por exemplo, “como determinar a cobertura de férias”, nota o estudo.
A HBR dá ainda o exemplo da companhia de aviação norte-americana Delta, onde os funcionários escolhem os seus próprios turnos utilizando um software informático específico. A antiguidade é um factor que dá prioridade nessa escolha.
“Os trabalhadores podem trocar ou ceder turnos, desde que as horas extraordinárias não aumentem e as regras de saúde e segurança não sejam violadas”, aponta a HBR.