Perdão de dívidas, fusão nuclear e talibãs na COP29: milkshake temático em Baku

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Igor Kovalenko / EPA

Guterres em Baku

O que têm em comum os talibãs, Giorgia Meloni, António Guterres e o Vaticano? Todos marcam presença no Azerbaijão nos primeiros dias da COP29, para discutir o clima. No ar, paira a poluição, mas também outra sombra: chama-se Donald Trump.

No segundo dia da COP29 em Baku (terça feira), o chefe da ONU para o Clima, Simon Stiell, mencionou o elefante na sala: “Muitos de vós escreveram sobre as implicações climáticas dos acontecimentos políticos nas últimas semanas. Direi apenas que o nosso processo é robusto. É robusto e irá durar”.

Referia-se aos “acontecimentos políticos” nos EUA, e garantiu que a discussão climática vai manter-se independentemente do resultado eleitoral que elegeu Donald Trump como presidente dos americanos.

Simon Stiell apelou ainda aos países de todo o mundo para que reduzam mais rapidamente as suas emissões de gases com efeito de estufa, alertando que “a crise climática está rapidamente a tornar-se um assassino da economia”, citou a Lusa.

Quem paga o quê a quem?

Um dos primeiros visitantes da COP29 foi o secretário geral das nações Unidas, António Guterres. Como é seu apanágio, chegou para pôr o dedo na ferida: “Os poluidores devem pagar”, disse, defendendo a tributação aérea e marítima.

“A diferença entre as necessidades de adaptação e as finanças pode atingir 359 mil milhões em 2030”, e isto significa que os países em desenvolvimento terão de alocar um mínimo de 40 mil milhões anuais de 2025 com esse objetivo, o que não conseguirão fazer sozinhos. O financiamento climático não é caridade”, realçou o português.

Também o Vaticano marcou presença na COP29, na figura do cardeal italiano Pietro Parolin, e defendeu que devem existir tributações impostas aos mais ricos. “É necessário criar uma nova ‘arquitetura’ financeira para que os países mais pobres e vulneráveis possam lutar contra a crise ambiental”, disse o cardeal.

“Existe uma verdadeira ‘dívida ecológica’ sobretudo entre o sul e o norte e que está relacionada com desequilíbrios comerciais”, comentou, e realçou a ideia já referida pelo Papa de perdoar a dívida aos países mais pobres.

Já a líder de extrema-direita Giorgia Meloni tem outros planos para atenuar a crise climática. Começou por dizer esta manhã que “não há alternativa para os combustíveis fósseis“, exceto uma, em que parece querer apostar: a energia nuclear.

“Temos de ter uma visão realista”, cita a Lusa a primeira-ministra italiana. “Precisamos de um equilíbrio e de um processo de transição, temos de utilizar todas as energias à nossa disposição, não só as renováveis, mas também os biocombustíveis e a fusão nuclear, que possam produzir energia limpa ilimitada”, afirmou.

Meloni destacou que a Itália está “na vanguarda da fusão nuclear” e organizou a primeira reunião durante o G7, embora não existam centrais nucleares no país, depois de terem sido encerradas em 1987, na sequência de um referendo.

O convidado que ninguém convidou

Para ajudar à “salganhada temática”, um visitante indesejado vai juntar-se à COP29. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão anunciou no domingo que os militares talibãs do país vão participar na conferência das Nações Unidas sobre o clima. O primeiro-ministro não marcará presença com o grupo na conferência Cop29.

O governo do grupo não é formalmente reconhecido pela ONU, lembra o The Independent e pela comunidade internacional, que censura as restrições impostas aos direitos básicos dos cidadãos (as mulheres afegãs, por exemplo, estão proibidas de frequentar a escola e de trabalhar).

A ONU tinha já impedido os talibãs de assumirem o controlo do assento do Afeganistão na Assembleia Geral e continua a apoiar os representantes nomeados pelo anterior governo de Ashraf Ghani para representar o país no panorama mundial.

ZAP //

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