A Europa quer andar de comboio, mas os preços não deixam

ArturVerkhovetskiy / Depositphotos

Andar de avião é mais barato do que de comboio, mas as pessoas querem cada vez mais optar por esta via. O que falta fazer nas linhas de ferro para as tornar acessíveis?

Geralmente, não é possível comprar bilhetes de comboio na Europa com mais de seis meses de antecedência, conta a BBC.

Quando a data abre, a procura é tanta que os lugares costumam esgotar em poucas horas, o que leva grande parte dos europeus a optar pelos voos, que são muito mais baratos (principalmente nas companhias low cost).

Mas há que não se resigne com a situação, como é o caso de Tess Longfield, que contou aos repórteres da BBC que está a tentar “viver uma vida mais sustentável” e sentiu-se “envergonhada” por ter de andar de avião, meio de transporte muito mais poluidor, para fazer as suas férias, uma vez que já não conseguiu bilhetes de comboio.

A procura por este meio de transporte para viagens do tipo Interrail dentro da Europa é crescente, mas os utilizadores entrevistados pela BBC relatam más experiências, desde o não reembolso de bilhetes ao preço dos mesmos.

Em 2024, as rotas de comboios (especialmente os noturnos) em toda a Europa continuaram a expandir-se e a crescer, lideradas pela rede Nightjet, da Áustria, que agora opera rotas que incluem Viena-Veneza e Paris-Berlim.

A Eurail gere a Interrail, uma das marcas de viagens de comboio mais conhecidas do continente, que dá mesmo nome a um “estilo” de viagem por comboio, em que se visitam vários países, e afirma ter visto a procura de viagens de comboio europeias e itinerários sem voos disponíveis crescer 25% entre 2022 e 2023.

Alguns países incentivam essa opção com governos como o francês a proibir voos “caseiros” para destinos onde a alternativa ferroviária chegue em menos de 2h30.

Mas porque são as viagens de comboio tão laboriosas e caras?

Justin Francis, Diretor Executivo da Responsible Travel, a maior empresa de viagens do mundo dedicada a viagens amigas do ambiente, acredita ter algumas explicações para o facto de a indústria de aviação ter ainda a hegemonia.

O combustível de aviação não é tributado devidamente (e devia, segundo Francis), o que torna as viagens mais baratas. Para além disso, os aviões dão para reservar com mais antecedência (os comboios deviam “permitir a reserva 180 dias antes”, diz) e reembolsar os clientes.

E, por fim, toda a burocracia associada a viajar de comboio: “Poderá ficar sentado numa plataforma de comboios à espera de uma ligação durante mais tempo do que gostaria; será provavelmente mais caro e, muito provavelmente, terá de ser o próprio a reservar a viagem”, escreve a BBC.

Para o especialista, estes defeitos têm de ser reparados, criando mais rotas, mais rápidas e com melhores ligações entre países, e dando seguimento ao plano da União Europeia para otimizar este meio de transporte.

Precisamos de competir em pé de igualdade”, disse à BBC. “Penso que temos vivido na esperança, encorajando as pessoas a pensar que o transporte ferroviário é a resposta. É altura de cair na realidade. Não é a resposta, a menos que consigamos resolver as questões fundamentais.”

ZAP //

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