Eleições determinam o alinhamento geopolítico da Moldova nos próximos anos. E Sandu está com a Europa, não com a Rússia. Quem não gostou foi o Kremlin.
“Moldova, somos vitoriosos! Hoje, caros moldavos, deram uma lição de democracia digna de aparecer nos livros de história. Hoje, salvaram a Moldova”. As palavras são da presidente do país desde 2020, agora reeleita, Maia Sandu.
A vitória, nesta madrugada, da candidata pró-Ocidente foi já celebrada por pelo presidente da Ucrânia e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que escreveu na rede social X: “É necessário um tipo raro de força para ultrapassar os desafios que enfrentou nesta eleição”.
Referia-se ao resultado “à justa” do referendo que a presidente da Moldova tinha levado a cabo em outubro sobre a União Europeia. A maioria dos moldavos é a favor da integração do país na UE, mas por muito pouco (50,28%), resultado esse que enfraqueceu a liderança da candidata na corrida eleitoral.
O resultado não foi tão bom como era esperado (especialmente na primeira volta, em que a candidata liderou com cerca de 42% dos votos) e na segunda volta das eleições Sandu venceu com pouco mais de 50% dos votos o candidato Alexandr Stoianoglo, socialista apoiante do Kremlin.
Stoianoglo recusou-se a criticar o Kremlin por ter invadido a Ucrânia no debate presidencial do fim de semana, e apelou à melhoria das relações com Moscovo. “O nível de interferência russa na Moldávia é muito exagerado”, disse. Acrescentou que iria procurar “reatar as relações” com Moscovo.
A UE prometeu um pacote plurianual de 1,8 mil milhões de euros para a Moldávia, por forma a ajudar no processo de adesão que o país iniciou oficialmente em junho, lembra o The Guardian. Sandu, ex-conselheira do Banco Mundial, comprometeu-se a “trabalhar dia e noite” para integrar a Moldávia na UE até 2030.
Nestas eleições, a Rússia vigiou de perto os resultados. Pelo menos assim garante Sandu, que acusou o Kremlin de comprar votos e espalhar desinformação no país. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou “resolutamente quaisquer acusações”.
Ainda assim, as autoridades da capital, Chișinău, garantem que Moscovo investiu cerca de 100 milhões de dólares (cerca de 92 milhões de euros) antes da primeira votação e contrabandeou fundos através de “mulas de dinheiro” detidas pela polícia no aeroporto principal, enquanto transportavam maços de 10 mil euros em dinheiro.
Chișinău fica a poucas horas de carro da cidade portuária ucraniana de Odesa, no Mar Negro. Já Moscovo tem 1500 soldados na Transnístria, uma região moldava dirigida por separatistas pró-russos que se separaram do governo numa breve guerra na década de 1990.
O país vive, portanto, num impasse entre os dois países do conflito russo-ucraniano. Por agora, um dos lados prevalece, mas a sombra do Kremlin continua a pairar sobre a população moldava.