Um homem que escapou da justiça por mais de 40 anos depois de assassinar a sua ex-mulher pensou que era “esperto demais” para ser capturado, segundo o detetive que auxiliou em sua prisão.
Christopher Harrisson matou Brenda Page, de 32 anos, em Aberdeen, na Escócia, em 1978, um ano após o divórcio do casal.
O detetive James Callander comentou sobre o caso, mencionando que Harrison acreditava ter-se safado de qualquer punição, mas durante uma entrevista, acabou por se implicar no crime. Isto resultou na sua condenação 45 anos após a morte de Page.
Todos os detalhes foram revelados num documentário da BBC chamado “O Assassinato de Brenda Page”, que examinou os eventos desde a prisão de Harrisson em 2020 até o julgamento. O documentário inclui o momento em que polícias entram à força na casa de Harrisson, enquanto ele afirma que “ela não foi assassinada aqui“.
O corpo de Page, uma especialista em genética, foi encontrado numa cama manchada de sangue em sua casa em Aberdeen em 14 de julho de 1978.
Harrisson, um cientista reformado, foi suspeito do assassinato. Foi detido nas horas seguintes ao crime, interrogado, e os procuradores do caso elaboraram um relatório.
Foi um assassinato que ganhou destaque na imprensa, com a polícia a procurar peças-chave para encontrar o culpado.
No entanto, durante muito tempo, não foi possível encontrar evidências conclusivas para determinar a culpabilidade do ex-marido.
O caso de Page foi encerrado, mas 37 anos depois, a polícia recebeu ordens para reabri-lo em 2015.
Novo indício
O esperma encontrado num cobertor dentro do apartamento de Page coincidia com o perfil de ADN do seu ex-marido, e um perito forense afirmou que havia 590 milhões de vezes mais probabilidade de ser dele do que de outro homem.
Harrisson foi interrogado novamente em 27 de março de 2020 e mais uma vez afirmou não ter tido nada a ver com a morte de sua ex-mulher.
No entanto, foi formalmente acusado de assassinato. Em março de 2023, Harrisson foi considerado culpado de assassinato após um julgamento que durou 10 dias.
Foi condenado a prisão perpétua e terá que aguardar 20 anos antes de poder pedir liberdade condicional. Callander, o principal investigador da polícia, disse à BBC que Harrisson não esperava ser preso 40 anos após a morte de Page.
“Acredito que a inteligência dele foi parte do seu declínio, porque ele pensou que era inteligente demais para ser considerado culpado 40 anos depois”, apontou Callander.
“Durante o interrogatório com a polícia, foi ele quem conectou algumas peças do quebra-cabeça até certo ponto, mas não percebeu isso”, acrescentou.
Segundo Callander, o assassino acreditava que a sua inteligência superava todas as outras e que poderia escapar impune.
“No entanto, não foi o caso, pois ao rever as respostas desse interrogatório, ele incrimina-se sozinho. Não há a menor dúvida sobre isso”, explicou o detetive. Os dois cientistas casaram em 1972, mas separaram-se quatro anos depois.
Page conseguiu um apartamento, e o casal finalmente se divorciou em 1977. Page sempre reclamou de ser infeliz no casamento e disse que temia o seu marido.
Compreensão da violência doméstica
Ao ser questionado sobre o que tinha mudado quando o caso retornou aos tribunais, Callander afirmou que “houve uma melhor compreensão sobre o controle coercitivo que ele exercia sobre ela e a violência doméstica”. Callander destacou que a violência doméstica era muito mais tolerada nas décadas de 70 e 80.
“Isso não se limitava apenas ao âmbito familiar, mas estendia-se à polícia e à sociedade em geral”, observou.
“Felizmente, esse cenário avançou consideravelmente. E isso foi provavelmente o mais importante para resolver o caso: uma compreensão mais profunda sobre o tema.”
Também mencionou que a polícia que investigou o assassinato em 1978 fez “um trabalho tão bom quanto o que faríamos hoje”.
“Tudo se resume realmente à sociedade. Será que a sociedade falhou com Page em 1978?”, questionou. “Possivelmente sim, mas estamos a analisar isso de uma perspectiva diferente em 2024.”
O sobrinho de Page, Chris Ling, de 59 anos, compareceu diariamente ao julgamento de Harrisson.
“É uma sensação muito estranha chegar ao tribunal e ver o homem acusado de assassinar minha tia a andar entre nós. Ele está simplesmente lá, sabe?”, disse Ling à BBC. “É tão diferente do que eu me lembro. Parece tão velho… faz-me pensar como a minha tia estaria agora”, acrescentou.
A irmã de Page, Rita Ling, de 88 anos, afirmou que passou anos a aguardar que a polícia conseguisse as provas necessárias para condenar o assassino.
Também lamentou a ausência da irmã. “Há uma foto de nós três num casamento, com a minha mãe no meio, Brenda de um lado e eu do outro. Eu achei que éramos um bom trio, fazíamos coisas juntas. Agora é apenas um espaço vazio.”
ZAP // BBC