À medida que a corrida para a próxima vaga de Inteligência Artificial (IA) aumenta, há um problema global que passa despercebido: a crescente pegada hídrica das grandes tecnológicas.
Os gigantes da tecnologia Microsoft e Google anunciaram, recentemente, um aumento substancial do seu consumo de água e os investigadores afirmam que um dos principais culpados é a corrida para capitalizar a próxima vaga de Inteligência Artificial (IA).
Shaolei Ren, investigador da Universidade da Califórnia, publicou um artigo científico, em abril, no qual investigou os recursos necessários para executar modelos de IA capazes de produzir vários tipos de conteúdos.
O estudo permitiu concluir que o ChatGPT, da OpenAI, consome 500 mililitros de água por cada 10 a 50 pedidos, dependendo de quando e onde o modelo de IA é implementado. Ora, se o serviço tiver centenas de milhões de utilizadores mensais, este trabalho prova que os modelos de IA generativa podem ser verdadeiramente “sedentos”.
Os autores do estudo alertaram para o facto de que, se a crescente pegada hídrica dos modelos de IA não for suficientemente falada, a questão poderá tornar-se um importante obstáculo à utilização socialmente responsável e sustentável da IA no futuro.
Em entrevista à CNBC, Ren referiu que, “de um modo geral, as pessoas estão a ficar mais informadas e conscientes desta questão”. “Penso que, nos próximos anos, também vamos assistir a mais confrontos sobre a utilização da água, pelo que este tipo de risco terá de ser assumido pelas empresas.”
Os data centers fazem parte da força vital das grandes empresas de tecnologia – e é necessária muita água para manter os servidores a funcionar. Com o surgimento da Inteligência Artificial, o clássico problema inerente à tecnologia é agravado: temos ganhos consideráveis de eficiência, mas um tremendo efeito de ricochete com o uso de mais energia e mais recursos fundamentais.
No último relatório de sustentabilidade ambiental da Microsoft, a empresa norte-americana de tecnologia revelou que o seu consumo global de água aumentou mais de um terço de 2021 a 2022, subindo para quase 1,7 mil milhões de galões. Estes dados significam que o uso anual de água da Microsoft seria suficiente para encher mais de 2.500 piscinas olímpicas.
Já o consumo total de água nos data centers e escritórios da Google foi de 5,6 mil milhões de galões em 2022, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.
Ambas as empresas estão a trabalhar para reduzir a sua pegada hídrica até ao final da década. Contudo, importa salientar que os últimos números relativos ao consumo de água foram divulgados antes do lançamento dos seus próprios concorrentes ChatGPT.
O poder de computação necessário para executar o Bing Chat, da Microsoft, e o Google Bard pode significar níveis significativamente mais elevados de utilização de água nos próximos meses.
Ainda assim, um porta-voz da Microsoft adiantou à CNBC que a empresa está a investir em investigação para medir a utilização de energia e água e o impacto da IA no carbono, além de estar também a trabalhar em formas de tornar os grandes sistemas mais eficientes.
“A IA será uma ferramenta poderosa para o avanço das soluções de sustentabilidade, mas precisamos de um fornecimento abundante de energia limpa em todo o mundo para alimentar esta nova tecnologia”, referiu.
Já um porta-voz do Google referiu que a investigação científica mostra que, embora a procura por IA tenha aumentado dramaticamente”, a energia necessária para alimentar esta tecnologia está a aumentar “a uma taxa muito mais lenta do que indicavam as previsões”.