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Temos que estar sempre a levar com música? Em todo o lado?

Vou às compras: música. Espero pelo transporte: música. Pequeno-almoço fora de casa: música. Será mesmo preciso? E será benéfico?

Ponto essencial nesta crónica: quem a escreveu é ouvinte muito assíduo (e até criador) de música. Basta espreitar o arquivo e verificar algumas “invenções musicais” feitas por mim, já aqui no ZAP.

Mas há limites.

Estou nas compras. Seja qual for a grande superfície, em princípio, lá ouço a música como cenário de fundo. Pode haver excepções; poucas.

Estou à espera do metro. Mesmo em estações ao ar livre, onde não me lembro de ouvir música antes, agora lá vão saindo notas das colunas.

Entro numa barbearia e também se ouve a música que vem do rádio encostado lá ao canto. Além do volume da televisão e dos homens que discutem algumas notícias do jornal do dia.

Hoje mesmo, no dia em que escrevo este texto, ao pequeno-almoço entrei numa confeitaria/padaria de um determinado nível (e de um determinado preço). É raro entrar ali mas, mesmo lá, e pelo menos hoje, lá estava a música. Bem alta.

Estou em casa e ouço música – volume baixo, suave – enquanto trabalho. Normal. O que não é normal é ouvir música de outras casas, constantemente; ou melhor, já passou a ser normal.

Daí o verbo utilizado no título, e que repito: “levar” com música. É diferente de ouvir música.

Como acabei de partilhar, é habitual uma pessoa ouvir música enquanto trabalha. Mas, supostamente, é a música que a pessoa escolheu.

Imaginemos – assim só numa pura especulação – que há pessoas em teletrabalho e, imaginemos outra vez, que até entram numa confeitaria para trabalhar (além de comer). Querem concentrar-se. E nem uns auscultadores com bom isolamento de som impedem a escuta da música que passa nas colunas do espaço.

Ou imaginemos que, nesse mesmo local, ou num café de um hipermercado, há pessoas a tentarem falar decentemente umas com as outras, mas não conseguem. Ou conseguem, mas só se aumentarem o volume da conversa. E de repente estamos no meio de uma confusão auditiva porque há: pessoas quase aos berros, barulhos normais da máquina de café, da caixa para pagar… e da música. Tudo ao mesmo tempo.

Há estimativas que apontam que ouvimos, todos os dias, 76 minutos que não escolhemos.

Será preciso?

E mais: será benéfico para o cliente?

Há uns anos, como lembra a agência MadAveGroup, um inquérito em Inglaterra quis conhecer as maiores irritações dos ingleses. No topo estava o e-mail que é “lixo”, condutores muito lentos, ou muitas filas nas compras.

Mas a lista tinha ainda… pessoas a falar muito alto ao telemóvel e música constante em lojas e restaurantes. 17% dos inquiridos ficavam irritados com tanta música.

A música pode nem estar sempre num volume elevado. Em muitos sítios não está. É só a “marcar presença”, quase como cenário de fundo.

No entanto, mesmo nesses casos, somos afectados pela música.

E na verdade pode haver mesmo um motivo, uma intenção por parte do comerciante, para colocar sempre música.

Um estudo mostrou que um supermercado vendeu mais vinho francês quando passava música francesa nas colunas; e venceu mais produtos alemães quando passava música alemã no mesmo espaço.

Há uma reacção emocional. E é propositado.

Aliás, há grandes lojas que usam serviços de música para ter uma “marca totalmente sensorial” nos seus espaços.

Porque há quem defenda que a música é tão importante como a imagem, o logotipo ou a decoração, por exemplo.

Cada espaço tem a sua música. Com um propósito específico: ou acelerar e tentar incentivar a mais compras (sentido de adrenalina, de necessidade onde não existe); ou proporcionar um ambiente mais calmo, suave, para a pessoa relaxar e se sentir em casa; ou até podem convencer alguns consumidores a ficar lá mais tempo só por causa da música que estão a ouvir – bem, na verdade, isto já me aconteceu.

E a grande maioria dos consumidores nem repara em nada disto.

Problema: colocar um estilo de música, ou um artista/grupo específico, que o cliente odeia. E pode haver clientes que deixam logo a loja só por causa da música que estão a ouvir; ou, mesmo que fiquem, já nem compram o que iam comprar. Irritam-se e não consomem.

Ou seja, se a ideia era atrair clientes, acabam por afastar quem se sente irritado, incomodado (aconteceu-me isso há umas horas, na tal confeitaria/padaria).

Outro propósito passa por motivar os funcionários de quem lá trabalha. Aliás, muitas vezes são os próprios trabalhadores que escolhem a banda sonora do dia. Uns sentem-se mais motivados, outros não se sentem sós graças a música.

Interessa é ter sempre música (e quase ninguém se lembra de que há direitos por pagar, no caso português à Sociedade Portuguesa de Autores).

O efeito caseiro

Por fim, mesmo que seja inconscientemente, comecei a reparar que passei a ouvir menos música – escolhida por mim – quando estou a trabalhar. Seja qual for o local do trabalho.

A música cansa-me mais rapidamente.

Porque será?

Já agora, música:

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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