Agitar um copo de martini para frente e para trás cria um intrincado padrão de vórtice no cocktail, que assume uma forma diferente dependendo das propriedades físicas da bebida.
Uma equipa de físicos da Universidade de Waterloo, no Canadá, liderados por Zhao Pan, descobriu um novo e intrigante fenómeno ao observar os padrões de mistura que se desenvolvem numa taça de Martini.
A descoberta ocorreu quando o físico, sentado junto a uma janela, notou que o movimento das bolhas no seu Martini formava vórtices em estruturas complexas.
Intrigado, Zhao Pan replicou a experiência em ambiente de laboratório, usando uma mistura de água, glicerina e corante alimentar em vez de uma bebida alcoólica.
A equipa do físico concentrou-se no conceito do “número de Reynolds“, uma medida de dinâmica dos fluidos que descreve o equilíbrio entre a inércia e a viscosidade nos fluidos.
Segundo a New Scientist, os investigadores experimentaram várias misturas, cada uma com diferentes números de Reynolds, para observar os padrões formados quando o copo de Martini era agitado.
Os resultados do estudo mostraram que misturas com números de Reynolds elevados, que podem ser alcançados adicionando muito licor a uma bebida, resultaram em padrões de vórtices em forma de coração alongado quando vistos de cima.
Por outro lado, líquidos com números de Reynolds muito baixos, indicando menor viscosidade, formaram padrões de vórtices simétricos que lembram um trevo de quatro folhas, com um pequeno redemoinho no centro de cada ‘pétala’.
O trabalho da equipa, que inclui uma série de fotografias a capturar estes padrões, será apresentado na conferência da Divisão de Mecânica de Fluidos da Sociedade Americana de Física em Washington DC.
Segundo Mabel Song, também investigadora da Universidade de Waterloo e co-autora do estudo, é possível traçar paralelos entre a dinâmica dos fluidos num copo de Martini agitado e outros sistemas, como o movimento de fluidos em recipientes móveis ou do combustível no tanque de um navio.
Estas semelhanças estendem-se também a fenómenos naturais. “Os padrões de fluxo num copo de martini agitado assemelham-se a correntes de retorno em áreas costeiras, onde o fluido atinge uma borda inclinada e se reflete, criando um forte jato para fora”, explica Zhao Pan.
O estudo lança não só luz sobre o mundo complexo da dinâmica dos fluidos, mas também ilustra como observações do dia a dia podem levar a descobertas científicas — algo que já sabíamos desde que uma mítica maçã caiu na cabeça de Isaac Newton.