Um novo estudo sugere uma ligação entre a sensação de uma presença fantasmagórica e o fenómeno de ouvir vozes.
Os investigadores descobriram que os indivíduos tinham mais probabilidades de relatar que ouviam uma voz quando havia um atraso entre uma ação e uma sensação correspondente, como por exemplo, o premir de um botão que fazia com que uma haste tocasse nas suas costas.
Estas descobertas permitem compreender a base neurológica das alucinações e sugerem que o processamento pelo cérebro de sinais sensoriais contraditórios pode desempenhar um papel importante.
As alucinações de ouvir vozes são mais comuns do que se pensava, sendo que até 10% da população em geral relata tais experiências. Estas alucinações existem num contínuo, ocorrendo em várias formas e intensidades, e podem afetar qualquer pessoa, não apenas indivíduos com diagnósticos psiquiátricos.
Neste estudo, explica o The New York Times, foi pedido aos voluntários que se sentassem numa cadeira e carregassem num botão que levava a haste a tocar-lhes nas costas.
Com alguns participantes, não havia qualquer atraso entre o premir do botão e a sensação, enquanto outros incluíam um atraso de meio segundo, o que frequentemente induzia a sensação de uma presença próxima.
Durante cada ensaio, os participantes ouviam gravações de ruído rosa, algumas das quais continham trechos da sua própria voz, da voz de outra pessoa ou nenhuma voz. Após cada ensaio, foi-lhes perguntado se tinham ouvido alguém a falar.
Os resultados revelaram que os indivíduos que tinham a sensação sinistra de uma presença fantasmagórica tinham mais probabilidades de referir que ouviam uma voz quando esta não existia.
Além disso, as pessoas que já tinham ouvido ruídos com a voz de outra pessoa tinham maior probabilidade de ouvir uma voz imaginária, o que sugere uma associação entre a presença alucinada e a voz. Curiosamente, mesmo os indivíduos que não tinham qualquer atraso entre o premir do botão e a haste, por vezes, referiam ouvir uma voz inexistente, sobretudo se tivessem ouvido recentemente clips da sua própria voz.
Estas descobertas apoiam a ideia de que as alucinações podem resultar de dificuldades em reconhecer as próprias ações e de se estar preparado para esperar resultados específicos. O estudo foi publicado recentemente na revista Psychological Medicine.
Com o passar do tempo, as pessoas que sentiram uma presença fantasmagórica tornaram-se cada vez mais suscetíveis de ouvir vozes, o que indica que o cérebro pode basear-se em experiências passadas para construir a impressão de alguém a falar.