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Recriação do incêndio de uma casa pré-histórica na civilização Cucuteni-Trypillia
As evidências arqueológicas indicam que a cultura Cucuteni-Trypillia, que viveu na Europa de leste, incendiava propositadamente as suas casas.
Entre 5500 e 2750 a.C., nas regiões dos atuais Roménia, Moldávia e Ucrânia, prosperava a cultura Cucuteni-Trypillia. Enquanto os seus vizinhos, os Sumérios, são frequentemente creditados como o berço da civilização, a cultura Cucuteni-Trypillia destaca-se como uma das sociedades mais antigas e significativas da Europa.
Batizada segundo os locais de escavação na Roménia e Ucrânia, o povo Cucuteni-Trypillia era notavelmente avançado para a sua época. Praticavam agricultura, artesanato com cobre e construíam vastas estruturas, algumas a abranger 7534 metros quadrados – aproximadamente o tamanho de dois campos de basquetebol.
Estas grandes estruturas, combinadas com um histórico assombroso de incêndios intencionais entre a cada 60 e 80 anos, deixaram os arqueólogos intrigados durante séculos, escreve o Big Think.
Este padrão de casas queimadas, generalizado na Europa Central e Oriental neolítica, foi denominado de “horizonte da casa queimada“. O termo, introduzido pela arqueóloga britânico-americana Ruth Tringham, destaca um fenómeno visto não apenas nos domínios de Cucuteni-Trypillia, mas também em áreas da Sérvia, Croácia, Bulgária e Hungria.
A grande questão, contudo, permanece: por que eram estes incêndios tão frequentes? Durante muito tempo, houve muitas especulações. Desastres naturais, invasões inimigas ou simplesmente um acidente? Mas, à medida que as investigações se aprofundavam, surgiu uma teoria intrigante sugerindo incêndios intencionais por razões simbólicas.
Mirjana Stevanovic, uma arqueóloga sérvia, propôs que tais incêndios poderiam ter um significado cultural, talvez para coventer as casas em “casas dos mortos” após a morte dos habitantes.
O arqueólogo russo Evgeniy Yuryevich Krichevski ofereceu uma perspetiva pragmática, sugerindo que os incêndios serviam para fortalecer e fumigar as estruturas baseadas em argila. Teorias mais modernas propõem que a intenção era limpar as antigas estruturas para construir novas.
Os estudos arqueológicos recentes procuraram validar estas teorias. Em 2022, uma equipa de investigadores húngaros analisou o solo e matéria vegetal de um local perto de Budapeste e confirmou que os incêndios lá pareciam intencionais.
Em 1977, os arqueólogos Arthur Bankoff e Frederik Winter incendiaram intencionalmente uma casa revestida de argila na Sérvia. O resultado? Enquanto o telhado de madeira pereceu, as paredes permaneceram maioritariamente intactas, apontando para um ato deliberado nos tempos antigos.
Numa experiência semelhante em 2018, arqueólogos ucranianos e britânicos criaram réplicas das casas Cucuteni-Trypillia e incendiaram-nas. O resultado foi semelhante ao das descobertas anteriores.
Há cálculos que revelam que estes incêndios antigos exigiriam enormes quantidades de combustível – até 250 árvores para edifícios de dois andares. Para uma comunidade de 100 casas, seriam necessários quase 6,12 quilómetros quadrados de floresta. Esta grande escala elimina a possibilidade de incêndios acidentais e destaca a incrível logística que as antigas sociedades geriam.