Por uma questão de “pedras”. Um autarca é o homem mais odiado de França

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Karsten Wentink / Wikipedia; Golfe du Morbihan

Agrupamento de menires neolíticos próximo de Carnac. Em primeiro plano, o autarca local, Olivier Lepick

Um autarca francês encontra-se envolvido numa acesa controvérsia nacional, depois de ter aprovado a remoção de 39 “pedras” para facilitar a construção de uma loja de ferragens.

O presidente da Câmara de Carnac, Olivier Lepick, está a enfrentar duras críticas em todo o país por ter aprovado a destruição de um grupo de “pedras” que, segundo o autarca, lhe disseram ter um “baixo valor arquitetónico“.

A controvérsia foi lançada por Christian Obeltz, arqueólogo amador local, que afirma que as pedras são na verdade menires — monólitos pré-históricos erguidos por humanos antigos há milhares de anos.

Obeltz acusa o presidente da Câmara de ignorar a história e destruir um local que pode ter até 7.000 anos — um potencial património que terá ficado irrevogavelmente perdido para a história.

Em contraste, salienta o arqueólogo, a menos de três quilómetros de distância, um agrupamento semelhante de 3.000 pedras está protegido. A região de Carnac é conhecida pelos seus agrupamentos de menires, que têm uma importância histórica, provavelmente sagrada e funerária.

Segundo o Le Monde, Lepick defendeu vigorosamente a sua decisão, afirmando que seguiu todas as regulamentações aplicáveis.

A sua posição foi aparentemente apoiada pela Direção Regional de Assuntos Culturais (DRAC), que confirmou que o local não estava listado entre as zonas arqueológicas reconhecidas.

Segundo a DRAC, a natureza das rochas é incerta, possivelmente insignificante, e poderiam não ser menires, pelo que não foi estabelecido conclusivamente que tenha havido danos em qualquer sítio arqueológico

No entanto, Obeltz contesta esta perspetiva. O arqueólogo afirma que o local nunca foi corretamente avaliado, pois não foram realizadas escavações arqueológicas para determinar se as pedras eram de facto menires.

A sua alegação ganhou força e desencadeou condenação generalizada da decisão de Lepick, que alguns rotulam já como “o homem mais odiado em França.

Alguns políticos franceses, incluindo a ex-candidata presidencial Marine Le Pen, criticaram as ações do presidente da Câmara. Le Pen classifica a decisão de “deplorável” e acusou o estado francês de não proteger os seus cidadãos e património.

Também a organização patrimonial Koun Breizh (“memória bretã”) se juntou ao conflito, apresentando uma queixa com o objetivo de lançar luz sobre o processo de tomada de decisão que levou à suposta destruição do local — com o objetivo de evitar que incidentes semelhantes ocorram no futuro.

No meio da tempestade, viu-se apanhado Stéphane Doriel, o diretor da cadeia de lojas de ferragens Mr. Bricolage, que afirma que a empresa seguiu todos os procedimentos necessários.

Doriel diz-se desorientado com a controvérsia, afirmando que, se soubesse da possível importância arqueológica do local… teria escolhido outro.

ZAP //

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