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Caso os humanos desaparecessem e os cães tivessem de se defender sozinhos, será que conseguiriam sobreviver num mundo sem pessoas?
“Não tenho dúvidas que os cães sobreviveriam sem nós”, disse à Live Science Jessica Pierce, da Universidade do Colorado Anschutz Medical Campus e autora do livro “A Dog’s World: Imagining the Lives of Dogs in a World without Humans” (“O Mundo de um Cão: A Vida dos Cães num Mundo sem Humanos”, em tradução livre).
“Os cães são descendentes de lobos e ainda têm muito do repertório comportamental dos lobos e de outros canídeos selvagens, por isso sabem como caçar e vasculhar”, referiu a investigadora.
Sem os humanos, os cães provavelmente atrasariam o relógio na sua domesticação e viveriam como espécies selvagens. No entanto, nem todos sobreviveriam a esta transição. Existe uma grande variedade de raças, e alguns estão menos preparados para a natureza do que outros.
Os cães de cara plana, como pugs e bulldogs, são propensos a vários problemas de saúde, incluindo os que restringem a sua respiração, o que prejudicaria a sua capacidade de caçar. Têm também caudas curtas, o que os prejudicaria socialmente quando interagissem com cães selvagens.
“As caudas são uma parte importante da caixa de ferramentas comunicativas”, indicou Jessica Pierce.
Os cães suscetíveis de acabar numa luta têm mais probabilidades de se ferir e menos de sobreviver. Como resultado, raças diferentes misturar-se-iam, permitindo que a seleção natural forjasse os cães mais aptos.
Esses cães também cruzar-se-iam com lobos para criar híbridos. Os cães e lobos já se misturam na Europa em países como a Itália, de acordo com um estudo publicado em 2017 na Global Ecology and Conservation.
Friederike Range, professor na Universidade de Medicina Veterinária de Viena que estuda cães e lobos, referiu à Live Science que o que separa ambos são os humanos.
“Embora os lobos sejam caçadores e os cães necrófagos, é um ‘continuum’. Os lobos também podem ser necrófagos e os cães também podem caçar”, explicou. Os lobos podem ser encontrados a viver em lixeiras tal como os cães vadios, e os cães vadios podem ser encontrados a caçar presas selvagens tal como os lobos, continuou.
Mas mesmo que os cães pudessem sobreviver num mundo sem humanos, não seriam infelizes? Nem Jessica Pierce nem Friederike Range vêem os cães a sofrer psicologicamente sem os donos.
O investigador coentou que, num ambiente doméstico, os humanos reprimem os comportamentos caninos. Os cães sem dono não têm restrições, e embora também não tenham o mesmo conforto doméstico, podem estar melhor do ponto de vista psicológico. “O que falta aos cães de estimação é liberdade”, disse Jessica Pierce.
Tendo estudado cães que vivem sem humanos, Friederike Range tem visto que formam os seus próprios grupos sociais. Na sua opinião, a alimentação é mais importante do que a companhia humana no bem-estar desses animais.
“Se desaparecêssemos, a comida seria o principal problema para os cães“, disse Jessica Pierce. “Desde que pudessem encontrar comida, ficariam perfeitamente felizes sem nós”, concluiu.
