A possibilidade do surgimento de novas variantes ou de combinações de variantes anteriores preocupa os especialistas, que alertam que o pior da pandemia ainda pode estar para vir.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a pandemia está a aproximar-se do fim, no entanto, as autoridades não descartam a possibilidade de uma reviravolta neste cenário que pode vir reverter o progresso feito nos últimos meses.
“A fase aguda da pandemia está a acabar e podemos estar perto do ponto de inflexão”, afirmou Sylvie Briand, diretora da Preparação Global para Riscos Infeciosos e Preparação para Emergências da OMS, durante um webinar.
No entanto, a responsável frisa que “até ninguém estar em risco, todos estão em risco” e lembra que o vírus continua a evoluir e a mutar-se. A sua prevalência também varia muito de acordo com o país, sendo a recente escalada de casos na China exemplo disso — o que ajuda a explicar a extensão do estado de emergência global decretada pela OMS em janeiro.
De acordo com Arurag Agrawal, diretor do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial e do Instituo de Genómica e Biologia Integrativa na Índia, a possibilidade de no futuro surgir uma variante mais severa da covid é real.
A crença de que a variante Ómicron é uma versão menos grave do vírus inicial é generalizada, mas os seus sintomas mais brandos devem-se, muito provavelmente, à imunidade generalizada das células T em muitas áreas do mundo, relata o Fortune.
As células T não impedem a transmissão da doença, mas reduzem o seu impacto e fazem com que esta seja mais suave do que nas populações onde esta imunidade é menor — como é o caso da China antes do fim da política “zero covid”.
“A Ómicron pode causar doença severa. Não é a vacina da natureza“, afirma Agrawal.
Recombinações ou combinações de variantes podem ser muito imprevisíveis. Os especialistas não descartam a possibilidade de a covid se combinar completamente com outro coronavírus, seja em humanos ou em animais, dos quais pode se espalhar mais tarde para os humanos.
Com a vigilância do surgimento de variantes em declínio, é possível que isto até já tenha acontecido ou que aconteça em breve e nos apanhe de surpresa.
“Precisamos ter certeza de que isso não está a acontecer. Seria o pior cenário”, alerta Agrawal.
“Estamos numa fase desafiante. Ninguém quer mais falar sobre a covid. Todos nós queremos que isto acabe. Devemos permanecer vigilantes. Não podemos tornar-nos complacentes… Precisamos que os governos se concentrem nisso”, avisa ainda Maria Van Kerkhove, líder técnica para a resposta à covid da OMS.