Maioria dos partidos políticos opõem-se à medida, preferindo investir na escola pública, de forma a diminuir as desigualdades no acesso à educação.
É um tema polémico e que em França ganha especial dimensão pela multiculturalidade que ali existe. O uso de uniformes escolares não é consensual e Brigitte Macron, primeira-dama francesa, foi a última figura de peso a dar o parecer, mostrando-se favorável à obrigatoriedade, numa altura em que a extrema-direita quer levar o tema ao parlamento e decretar um código de vestuário mandatório a nível nacional.
Para contextualizar, os uniformes nunca foram obrigatórios em França, e o responsável pela pasta da Educação no governo de Macron é manifestamente contra qualquer lei do género.
No entanto, o assunto ganhou dimensão de debate nacional, numa semana em que o país se prepara para uma greve geral face ao anúncio do aumento da idade da reforma, depois da Brigitte Macron ter dado o seu parecer numa entrevista dada ao Le Parisien Daily.
“Enquanto aluna, usei uniforme durante 15 anos. Uma saia curta azul escura e um pullover azul escuro também. E achava que estaca bem”, respondeu a uma questão colocada por uma aluna de 14 anos. A primeira-dama prosseguiu para justificar a sua escolha.
“[Os uniformes] apagam as diferenças, poupam tempo. Gastamos tempo a escolher o que vamos usar pelas manhãs, e também dinheiro” em roupas de marcas. Como tal, concluiu, “sou a favor dos uniformes, mas indumentárias simples“.
Os livros de história dizem-nos que os uniformes escolares foram primeiramente introduzidos nas escolas secundárias durante o regime de Napoleão, com algumas instituições públicas a mantê-los até ao fim da década de 1960. No entanto, a tradição foi uma das muitas que não sobreviveu à greve estudantil de maio de 1968.
À semelhança do que acontece em Portugal, estas roupas continuam a ser usadas em algumas instituições militares e privadas. No entanto, em muitos territórios franceses não continentais, os uniformes continuam a ser uma exigência na maioria das escolas.
Já em contexto nacional e continental, Marine Le Pen, líder do partido Rassemblement National, incluiu uma proposta relacionada com os uniformes escolares entre as sete leis que na última semana apresentou à Assembleia Nacional.
Na opinião da líder da extrema-direita, esta seria uma forma de “evitar a pressão” dos “islamitas“. A representante partidária também argumentou que, desta forma, iriam acabar com as lutas “pelas roupas mais caras, mais luxuosas e mais fashion“.
Considerando a atual composição da Assembleia Nacional, é mais que provável que a lei acabe por chumbar.
Nos outros quadrantes políticos e partidários, nomeadamente os mais moderados, as opiniões dividem-se. “Eu não quero uma lei que limite o tema” disse, taxativamente”, Pap Ndiaye, ministro da Educação.
A esquerda também parece concordar. Alexis Corbiere, deputado da extrema-esquerda, preferiu sublinhar que o importante é garantir o acesso a boa educação, já que, no caso das pessoas mais ricas, podiam simplesmente inscrever os seus filhos em escolas particulares. “Usarem a mesma t-shirt ou a mesma saia não vai resolver a questão.”
Também a representante dos Verdes, Sandrine Rousseau, defendeu que os uniformes não iam reduzir a inequidade na educação. “É preciso investir nas escolas públicas e pagar corretamente aos professores“, escreveu no Twitter.