Um novo relatório propõe um imposto para quem viaje regularmente de avião de forma a tentar reduzir as emissões da indústria da aviação.
As emissões de gases com efeito de estufa dos voos permanecem na atmosfera e vão aquecê-la por vários séculos. Como as emissões dos aviões são libertadas a uma grande altitude da atmosfera, têm um forte impacto climático, desencadeando reações químicas e efeitos atmosféricos que aquecem o planeta.
As emissões de CO2 do combustível de aviação são de 3,15 gramas por grama de combustível. Assim, as emissões de CO2 de um Boeing 737-400 são de 115 gramas por passageiro por quilómetro. A uma velocidade cruzeiro de 780 km/h isso equivale a 90 quilogramas de CO2 por passageiro por hora.
As emissões da indústria da aviação representam 3% das emissões mundiais. O que é que podemos fazer para mudar isso?
Enquanto não houver companhias aéreas com aeronaves elétricas, a solução pode passar por taxar aqueles que viajam mais. Pelo menos é o que sugere um novo relatório da organização sem fins lucrativos International Council on Clean Transportation.
“Um imposto de voo frequente poderia gerar, de apenas 2% da população mundial, 81% da receita necessária para descarbonizar a aviação”, lê-se no relatório.
A socialite Kylie Jenner viu-se recentemente no centro de uma nova polémica. A jovem bilionária e membro do clã Kardashian fez um voo de jato privado que durou apenas 17 minutos, tendo nesse curto período emitido uma tonelada de gases com efeito de estufa — um quarto das emissões que uma pessoa média causa por ano.
Este é o caso mais recente numa longa lista de famosos que usam aviões privados para viagens curtas. As emissões per capita nos jatos são entre cinco e 14 vezes maiores do que nos voos comerciais.
Nas redes sociais, os ataques não tardaram, com muitos utilizadores a acusarem-a a empresária de ser uma “criminosa climática a tempo inteiro” e de se estar a marimbar para o planeta. Os suecos até já criaram a palavra flygskam, que se pode traduzir por “vergonha de voar”.
O relatório do International Council on Clean Transportation propõe uma solução para evitar que as pessoas viagem tanto — ou pelo menos, que pague mais por isso.
“Estamos a dizer: ‘Se você quiser voar mais, tudo bem'”, disse Sola Zheng, autora principal do relatório, citada pelo The Washington Post. “Você só tem que pagar um pouco mais”.
O relatório sugere um imposto de passageiro que começa no segundo voo que cada pessoa faz por ano, com uma taxa no valor de 9 dólares.
O valor a pagar aumentaria gradualmente consoante a pessoa fosse viajando mais, podendo chegar aos 177 dólares ao 20.º voo num só ano. Entende-se por voo uma descolagem e consequente aterragem — ou seja, num viagem com ida e volta, contariam dois voos.
Para o consumidor médio, que faz cerca de duas viagens por ano, o imposto seria quase insignificante. No entanto, seria bastante penalizador para quem faz viagens de negócios e precisa de voar regularmente.
O estudo do International Council on Clean Transportation surge numa altura em que os políticos reúnem-se em Montreal, no Canadá, para decidir uma meta de emissões zero na aviação internacional.
“A Organização da Aviação Civil Internacional estima que 4 biliões de dólares em investimento em tecnologia podem ser necessários até 2050 para alcançar reduções de emissões compatíveis com um limite de 1,75°C na temperatura global”, lê-se no relatório. “Isto traduz-se num investimento anual de 121 mil milhões de dólares”.
Aleluia! A indústria de aviação devia ser obrigada a internalizar os custos ambientais que provoca. Os atuais preços das viagens aéreas não repercutem o custo ambiental da indústria.