Há criaturas monstruosas na escuridão do fundo dos oceanos, mas há um “gigante adormecido” que pode acabar com a vida marinha nestas profundidades: a deriva continental.
A posição dos continentes ajuda a encher os oceanos com oxigénio que sustenta a vida marinha, mas a sua deriva pode acabar por matar as criaturas das profundezas dos oceanos.
A teoria da deriva continental foi apresentada pelo geólogo alemão Alfred Wegener, em 1913, com a publicação de sua obra clássica “A Origem dos Continentes e Oceanos”. Wegener afirmava que os continentes, hoje separados por oceanos, estiveram unidos numa única massa de terra no passado, denominada de Pangeia.
À medida que as placas se deslocaram, a terra deste supercontinente começou lentamente a separar-se. Chama-se a este movimento a deriva continental.
“A deriva continental parece tão lenta, como se nada drástico pudesse acontecer, mas mesmo um evento aparentemente pequeno poderia desencadear a morte generalizada da vida marinha”, avisou Andy Ridgwell, coautor de um novo estudo publicado, na semana passada, na revista científica Nature.
Mas porque é que a deriva continental afeta tão seriamente a vida marinha?
A água na superfície do oceano torna-se mais fria e mais densa à medida que se aproxima dos polos, depois afunda. À medida que a água afunda, transporta o oxigénio da Terra para o fundo do oceano.
Eventualmente, um fluxo de retorno traz nutrientes libertados da matéria orgânica afundada de volta à superfície do oceano, onde alimenta o crescimento de plâncton. Tanto o fornecimento de oxigénio para as profundidades mais baixas quanto a matéria orgânica produzida na superfície sustentam uma incrível diversidade de peixes e outros animais, explicam os cientistas em comunicado.
Os autores do novo estudo procuraram perceber se a localização das placas continentais afeta a forma como o oceano movimenta o oxigénio. Para sua surpresa, descobriram que sim.
“Há muitos milhões de anos, não muito tempo depois de a vida animal no oceano começar, toda a circulação oceânica global pareceu desligar periodicamente”, disse Ridgwell. “Não esperávamos descobrir que o movimento dos continentes poderia fazer com que as águas superficiais e o oxigénio parassem de afundar, e possivelmente afetando dramaticamente a maneira como a vida evoluiu na Terra”.
“Os cientistas supunham anteriormente que a mudança dos níveis de oxigénio no oceano refletia principalmente flutuações semelhantes na atmosfera”, disse Alexandre Pohl, autor principal do estudo.
Os resultados deste novo estudo mostram que o colapso na circulação da água leva a uma separação acentuada entre os níveis de oxigénio nas profundidades superior e inferior.
Essa separação significou que todo o fundo do mar, exceto os locais rasos perto da costa, perderam totalmente o oxigénio durante muitas dezenas de milhões de anos, até há cerca de 440 milhões de anos.
O artigo não aborda se ou quando é que a Terra pode esperar um evento semelhante no futuro. É difícil identificar quando é que um colapso pode ocorrer ou o que é que o desencadeia.
No entanto, os atuais modelos climáticos confirmam que o aumento do aquecimento global enfraquecerá a circulação oceânica, e alguns modelos preveem mesmo um colapso do ramo de circulação que começa no Atlântico Norte.