Um novo artigo divulgado na quarta-feira revelou que não há evidências claras ou suficientes para confirmar a associação direta entre os baixos níveis de serotonina e o desenvolvimento de depressão.
A investigação, publicada na Molecular Psychiatry, consiste numa revisão sistemática e é composta por 17 pesquisas que já haviam sido realizadas. As conclusões repercutem nas questões sobre o tratamento da depressão, com o uso generalizado dos antidepressivos a ser posto em causa.
A serotonina, conhecida como a hormona da felicidade, é um neurotransmissor que atua, por exemplo, no humor. Medicamentos que aumentam essa substância – designados inibidores de recaptação de serotonina – tiveram efeitos positivos no tratamento do transtorno psiquiátrico, como lembrou o Science Alert.
Na análise, contudo, foi observado que nem todos os pacientes com depressão apresentavam baixos níveis de serotonina, ou seja, o quadro depressivo estaria associado a outros fatores. Foi também constatado que a utilização de métodos para reduzir a serotonina em indivíduos sem a condição não resultou em depressão.
O uso de antidepressivos começou a aumentar exponencialmente desde a década de 1990. Em Portugal, segundo dados avançados pela Infarmed, em 2021, venderam-se, em média, mais de 28 mil embalagens por dia.
“Muitas pessoas tomam antidepressivos porque foram levadas a acreditar que a sua depressão tem uma causa bioquímica, mas esta nova pesquisa sugere que essa crença não é baseada em evidências”, disse a principal autora do estudo, Joanna Moncrieff, professora de psiquiatria na University College London.
“Podemos dizer, com segurança, que após uma grande quantidade de estudos conduzidos ao longo de várias décadas, não há evidências convincentes de que a depressão seja causada por anormalidades ao nível da serotonina, particularmente por níveis mais baixos ou atividade reduzida da mesma”, explicou ao Guardian a também psiquiatra na North East London NHS Foundation Trust.
E continuou: “milhares de pessoas sofrem dos efeitos colaterais dos antidepressivos, incluindo os graves efeitos de abstinência, que podem ocorrer quando tentam parar de os tomar, mas as taxas de prescrição continuam a aumentar”.
“Acreditamos que essa situação tenha sido impulsionada, em parte, pela falsa crença de que a depressão se deve a um desequilíbrio químico. Já é hora de informar o público de que essa crença não é fundamentada na ciência”, declaro ainda.
Outros especialistas, como os membros do Royal College of Psychiatrists, questionaram as descobertas e pediram que as pessoas não parassem de tomar os seus medicamentos, argumentando que os antidepressivos permanecem eficazes.