Há uma mudança a acontecer no núcleo externo da Terra

A análise a dois sismos na mesma localização que aconteceram com 20 anos de diferença revelou que o material presente no núcleo externo é agora mais leve, o que fez com que as ondas se propagassem mais rápido.

A maioria do nosso conhecimento sobre o que existe no centro do nosso planeta vem do estudo das ondas sísmicas, que revelam a composição das rochas e dos metais debaixo da superfície da Terra.

Um novo estudo publicado na Nature Communications Earth & Environment analisou a propagação de ondas sísmicas a partir de dois sismos diferentes em localizações semelhantes, mas que aconteceram com 20 anos de diferença.

A pesquisa concluiu que há mudanças a acontecer no núcleo externo do planeta, a camada de ferro líquido rodopiante e de níquel entre o manto e o núcleo interno. O núcleo externo e o ferro que contém influenciam diretamente o campo magnético do nosso planeta, que possibilita a existência de vida na Terra ao fornecer proteção da radiação solar.

Por esta razão, entender a evolução do núcleo externo é muito importante. Os dados das ondas de ambos os sismos mostraram que as ondas do segundo evento se propagaram um segundo mais rápido quando passaram pela mesma região do núcleo externo.

“Algo mudou ao longo do caminho dessa onda, para que possa ir mais rápido agora. O material que havia há 20 anos já não está lá. Este novo material é mais leve. Estes elementos leves vão mover-se para cima e mudar a densidade na região onde estão localizados”, afirma a geocientista Ying Zhou.

O tipo de ondas analisadas são ondas SKS: passam através do manto como ondas transversais e depois no núcleo externo já são ondas longitudinais. O timing desta viagens pode ser importante, nota o Science Alert.

Ambos os sismos foram perto das ilhas Kermadec, no sul do Oceano Pacífico, em Maio de 1997 e em Setembro de 2018. A convecção que aconteceu no ferro líquido no núcleo externo da Terra quando este se cristalizou no núcleo interno, criou correntes elétricas fluidas, que controlam o campo magnético à nossa volta.

No entanto, a relação entre o núcleo externo e o campo magnético da Terra ainda não é totalmente entendida e depende de modelos hipotéticos, não havendo certezas sobre o fenómeno da convecção.

O novo estudo pode dar pistas que ajudem a dissipar estas dúvidas. Zhou sugere que os elementos mais leves, como o hidrogénio, o carbono ou o oxigénio, tenham sido libertados no núcleo externo desde 1997. Isto corresponde a uma redução na densidade de entre 2% e 3% e a uma velocidade na convecção de fluidos de cerca de 40 km/h.

“Podemos ver as ondas agora. Se as podemos ver, no futuro, podemos construir mais estações sísmicas e monitorizar essa fluidez”, remata Zhou.

ZAP //

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