Li Jiaqi era um dos influencers mais famosos da China, até que um bolo com forma de tanque apareceu num dos seus vídeos

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Taobao Live

Li Jiaqui com um bolo com forma de tanque

Há duas semanas, Li Jiaqi fez-se acompanhar num dos seus vídeos por um bolo com forma de tanque de guerra, uma figura que muitos relacionaram com o massacre de Tiananmen.

Durante grande parte da sua juventude, Li Jiaqi recebeu formação como bailarino, mas só aos 20 anos descobriu que dispunha de um dom especial para vender batons – sim, batons. Mesmo antes de se tornar um dos vendedores digitais mais populares da China, o seu estilo mereceu elogios tanto dos seus clientes como dos seus empregadores.

No entanto, a caminhada de sucesso foi interrompida de forma abrupta há duas semanas, quando o seu site ficou indisponível após uma breve aparição de um dos símbolos do massacre da Praça Tiananmen, em 1989. Até então, conta o The Guardian, a história de Li era uma das muitas contadas nos meios de comunicação social para inspirar os jovens chineses a iniciar o seu próprio negócio.

A carreira de Li começou em 2015 na província de Jiangxi, no sudeste da China, quando, com 23 anos, se tornou consultor de beleza num balcão de cosméticos da L’Oréal, num centro comercial. Pouco depois de se instalar, Li percebeu que apenas poucos clientes estavam dispostos a experimentar diretamente amostras de batom, pelo que propôs fazer algo novo: testar as cores dos batons nos seus próprios lábios para os clientes.

A ideia, aparentemente simples, fez dele uma superestrela. De facto, os clientes adoraram a técnica, o que lhe garantiu vários prémios de vendas. Quando o comércio digital começou a dar os primeiros passos na China, o então vendedor viu uma oportunidade. Em 2018, estabeleceu um recorde do Guinness para o maior número de batons aplicados em 30 segundos, uma aventura que teve transmissão em direto através da plataforma Taobao, integrante da toda-poderosa Alibaba.

Facilmente reconhecível por grande parte da população chinesa, Li Jiaqi tem cerca de 45 milhões de seguidores no Douyin, o equivalente chinês do TikTok, e conta com uma riqueza estimada de 10 milhões de dólares. O reconhecimento valeu-lhe presenças em concursos caricatos, como a que o opôs a Jack Ma, fundador da Alibaba e uma famosa celebridade no país. O objetivo era perceber quem conseguia vender mais batons durante o Double Eleven, um festival de compras online. Acabou por sair vitorioso.

Segundo a Taobao, durante o confinamento provocado pela pandemia China em 2020, Li foi a sua âncora número durante três meses consecutivos. A propósito de uma transmissão vídeo em abril desse mesmo ano, Li e o seu parceiro de vendas atingiram vendas de quase 6 milhões de euros no espaço de duas horas – com 11 milhões de pessoas a assistir.

A popularidade atingida trouxe também a responsabilidade de promover as próprias marcas chinesas, numa altura que coincide com um nacionalismo crescente e a deterioração da relação de Pequim com as capitais ocidentais. No ano passado, num documentário intitulado Proudly Made in China, Li questionou o porquê de as marcas chinesas não serem merecedoras da confiança dos consumidores. “Quero fazer o melhor para lhes dar bilhetes de entrada“, disse ele.

No entanto, a persona pública de Li enquanto celebridade empresarial popular e patriótica está agora em risco, apontou Lüqiu Luwei da Universidade Baptista de Hong Kong. Na véspera do 33º aniversário dos assassinatos de Tiananmen, o streaming de Li foi abruptamente cortado quando ele apareceu com um bolo de gelado com decorações de chocolate que se assemelhavam a um tanque.

As referências aos protestos mortais de 1989 – assim como a imagem mais famosa das manifestações, de um homem em frente de uma fila de tanques – é estritamente censurada na China. “A maior parte da geração de jovens chineses de Li nem sequer tem conhecimento do que aconteceu naquele dia, quanto mais evocá-lo deliberadamente como meio de protesto”, disse Lüqiu.

Desde o incidente, Li deixou de publicar nas suas plataformas, sobretudo se se considerar a frequência com que o fazia anteriormente. Algumas fontes bem colocadas no panorama do entretenimento na China revelaram que está em curso uma investigação para determinar o que realmente aconteceu: quem fez o bolo, se o seu aparecimento foi uma mera coincidência ou um ato intencional.

Ainda assim, Lüqiu explicou que qualquer que fosse o resultado, o ato da censura chinesa de investigar Li levou inadvertidamente muitos jovens chineses a questionar o porquê porque de um tanque poder causar um drama desta dimensão. “Ironicamente, muitos nos meios de comunicação social chineses parecem saber o porquê agora. Chamam-lhe o Paradoxo de Li Jiaqi”.

ZAP //

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12 Comments

  1. A China essa grande democracia que, tal como a outra (a russa) alguns gostariam de impor no ocidente. Por muito mau que isto seja, ainda posso dizer e escrever abertamente que os governantes são maus ou incompetentes, ou que alguns são corruptos….
    Proponho, até pela posição da China, em relação à Guerra na Ucrânia, um boicote aos produtos chineses. É evidente que um boicote a 100% não é possível. Mas, se conseguirmos fazê-lo tanto quanto possível, já deve causar mossa.

    • Já há muitos anos que boicoto produtos chineses – só compro quando não há mesmo alternativa – infelizmente isso acontece com muitos produtos (electrónicos, etc)!…
      Pior foi ver os lideres europeus a deixar (e até a apoiar!) a venda de empresas europeias à China e, só no últimos tempo terem acordado para esse problema… é apenas uma questão de tempo para a China se tornar uma ameaça bem maior do que Russia!

      • Nesta concordamos inteiramente. Na verdade, se há algo que contesto (e muito!) no governo Passos/Portas é justamente termos vendido uma parte significativa da REN e da EDP aos chineses, os aeroportos aos franceses e os CTT a um conjunto de abutres. Nem bos EUA os correios são privados!
        Infraestruturas e participações em sectores estratégicos, mande quem mandar, não são para vender. Já vender a TAP ou a RTP não me causa qualquer desconforto. Nisso, Passos e Portas, falharam redondamente!

        • E ver multinacionais de topo como a maior fabricante de robots da Europa (mundo?), a alemã Kuka ser vendida aos chineses – que ao fim de 2 anos substituíram todas as chefias na Alemanha por chineses?
          Ou a divisão de motores de arranque/alternadores da Bosch (também o maior fabricante do mundo?) também vendida aos chineses?
          E o pior, os chineses terem comprado minas, explorações, etc de vários minerais/materiais pelo mundo fora
          o que impossibilita/dificulta o acesso de empresas europeias (etc) a essas matérias primas??

          Agora a EU já está a acordar e já protege empresas estratégicas (hoje a REN e EDP já não seriam vendidas aos chineses!), mas muito mal já foi feito e mais tarde ou mais cedo vamos ter da China (só que pior!) o que estamos a passar agora com a Russia!!

          • Subscrevo integralmente. Dos problemas na Alemanha nada sabia. Mas os de cá são gravíssimos. E, é como diz. A Rússia comparada com a China é (quase) irrelevante… Não deixa de ser curioso que, no meio disto tudo, quem verdadeiramente fez os Europeus acordar para o perigo da China, foi o Trump…

      • se boicota os produtos da china, deve então viver na idade da pedra.
        não tem televisão, telefone, etc
        diga-me qual é o produto vendido no mercado que não tem origem na china?
        nao sabe que para as empresas fica mais barato mandarem fazer as coisas na china do que nos proprios paises? tudo devido à mao de obra barata e o que revolta é que +depois vendem esses produtos como fossem feitos nesses paises o que faz aumentar os preços

        • Andas a dormir… isso é discurso do típico ignorante/preguiçoso!…
          Por exemplo, estou a escrever num telemóvel Samsung Made in Vietnam, etc, etc…
          é preciso abrir a pestana e escolher melhor antes de comentar!…
          Há mão de obra mais barata do que a China.

          Além disso, eu escrevi que boicoto produtos chineses ao máximo e só compro quando não há alternativa.

          • Tanto disparate junto. O que para aí vai. É mesmo de quem desconhece por completo as cadeias globais de produção.

          • tu é que deves andar a dormir
            tens que me dizer qual é o produto que nao é feito ou tem componentes “made in china”
            ate alguma roupa é feita la
            porque achas que a china está considerada como o pais mais poluente? todas as industrias estao la, assim poluem a china e nao o pais dos outro

      • Boicoto produtos chineses!!! Ah ah ah ah ah… És ainda mais tolo do que aparentas. Na esmagadora maioria dos produtos que compras há partes incorporadas que são produzidas na China. Até o bacalhau lá ia secar… Não fales do que não sabes.

  2. Típico nas aberrações comunistas! O Mundo nunca esteve num perigo tão grande como agora ao vermos regimes obscurantistas cada vez mais autoritários e mais ferozes contra as liberdades individuais, politicas, as democracias e o Mundo civilizado hoje, usam as tecnologias contra os cidadãos spb qualquer pretexto impondoo logro e a mentira! Curioso é ver uma união tão grande entre neo-nazis e comunistas nesta “luta”!

  3. As ditaduras, além de outras características ainda piores, são estúpidas. Agora na China todo o mundo se questiona o que representa o tanque. É da maneira que não cai no esquecimento!

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