Os cientistas descobriram um novo tipo de célula escondida no interior das passagens delicadas e ramificadas dos pulmões humanos.
As novas células desempenham um papel vital na manutenção do bom funcionamento do sistema respiratório e podem mesmo inspirar novos tratamentos para inverter os efeitos de determinadas doenças relacionadas com o tabagismo, de acordo com a Live Science.
Segundo o novo estudo, publicado na Nature a 30 de março, as células, conhecidas como Vias Respiratórias Secretoras (RAS), encontram-se nos os bronquíolos, as ramificações terminais dos brônquios.
Os bronquíolos são estruturas tubulares minúsculas com menos de 1 mm de diâmetro, e a partir delas surgem outras ramificações, os ductos alveolares, os quais terminam nos alvéolos pulmonares.
As novas células RAS são semelhantes às células estaminais — células “em branco” que diferenciam de qualquer outro tipo de célula do corpo — e são capazes de reparar células danificadas dos alvéolos e de se transformarem em novas células.
Os investigadores descobriram as células RAS após se terem “fartado” das limitações dos pulmões dos ratos, usados como modelos do sistema respiratório humano.
Contudo, devido às diferenças entre os dois, os cientistas têm lutado para preencher algumas lacunas no conhecimento sobre os pulmões humanos.
Para compreender melhor estas diferenças a nível celular, a equipa recolheu amostras de tecido pulmonar de dadores humanos saudáveis e analisou os genes dentro de células individuais, o que revelou as células RAS.
“Sabe-se há algum tempo que as vias respiratórias do pulmão humano são diferentes das do rato”, realça Edward Morrisey, autor principal do estudo e professor na Perelman School of Medicine da Universidade da Pensilvânia.
“Mas as tecnologias inovadoras só nos permitiram identificar tipos de células únicas mais recentemente”, acrescenta.
A equipa também encontrou células RAS em furões, cujos sistemas respiratórios são mais semelhantes aos dos seres humanos do que os dos ratos.
Como resultado, a equipa de investigação suspeita que a maioria dos mamíferos de tamanho igual ou superior têm células RAS nos seus pulmões, nota Morrisey.
As células RAS servem duas funções principais nos pulmões. Primeiro, secretam moléculas que mantêm o revestimento fluido ao longo dos bronquíolos, ajudando a evitar o colapso das vias respiratórias e a maximizar a eficiência dos pulmões.
Segundo, podem atuar como células progenitoras de células alveolares tipo 2 (AT2), um tipo especial de alvéolos que segregam um químico utilizado, em parte, para reparar outros alvéolos danificados.
Uma célula progenitora é uma célula que tem a capacidade de se diferenciar num outro tipo de célula, semelhante à forma como as células estaminais se diferenciam de outras células.
“As células RAS são o que designamos de progenitores facultativos“, sublinha Morrisey, “o que significa que atuam como células progenitoras e têm também um papel importante na manutenção da saúde das vias aéreas”.
Isto significa que as células RAS desempenham um papel vital na manutenção de pulmões saudáveis, de acordo com o investigador.
Os investigadores pensam que as células RAS podem desempenhar um papel fundamental em doenças relacionadas com o tabagismo, tais como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
COPD é o resultado da inflamação das vias respiratórias dentro dos pulmões, que pode ser causada pelo fumo e, ocasionalmente, pela poluição do ar. A inflamação das vias respiratórias torna mais difícil a absorção adequada de oxigénio para os pulmões.
Como resultado, a DPOC tem sintomas semelhantes aos da asma. Pode também levar a enfisema, com os alvéolos destruídos permanentemente, e bronquite crónica, uma tosse prolongada e intensa, geralmente acompanhada de excesso de muco.
Todos os anos, mais de 3 milhões de pessoas em todo o mundo morrem de DPOC, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Em teoria, as células RAS devem prevenir, ou pelo menos aliviar, os efeitos da DPOC através da reparação de alvéolos danificados. No entanto, os investigadores suspeitam que fumar pode danificar ou mesmo destruir completamente as novas células, levando ao aparecimento de doenças como a COPD.
Os medicamente frequentemente receitados aos doentes com DPOC são anti-inflamatórios ou oxigenoterapia, para aliviar os sintomas.
No entanto, estas são apenas soluções temporárias e não têm a capacidade de reverter os danos pulmonares. As células RAS poderiam ser utilizadas para melhorar os tratamentos ou mesmo curar a DPOC, se os investigadores conseguirem aproveitar devidamente as suas propriedades regenerativas.
“Não sabemos realmente se esta descoberta pode permitir uma potencial cura para a DPOC”, salientou Morrisey.
“Contudo, uma vez que a DPOC é uma doença sobre a qual sabemos muito pouco, qualquer nova visão nos deverá ajudar a começar a pensar em novas abordagens terapêuticas e a melhores tratamentos“, conclui o investigador.
As células são denominadas Respiratory Airway Secretory (RAS) o que significa Vias Respiratórias Secretoras e não “células do segredo das vias respiratórias”, como diz no artigo. Secretoras de secreção e não de segredo.
Cara leitora,
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