Investigadores de novo estudo tentaram que os participantes mantivessem o mesmo estilo de vida — ao nível de alimentação e atividade física, por exemplo — para perceber o verdadeiro impacto das mudanças no período de sono.
Há muito que a ciência estabeleceu uma ligação entre o défice de sono, ou descanso, e o excesso de peso e outro tipo de distúrbios metabólico. No entanto, os especialistas parecem agora apostados em fazer a pergunta no sentido oposto, ou seja, se o excesso de sono também tem influência nesta vertente da saúde.
De facto, um grupo de investigadores norte-americanos (das Universidades de Chicago e do Wisconsin-Madison), através de um novo estudo, concluiu que o prolongamento da duração do sono noturno de pessoas com excesso de peso pode levar a uma redução significativa da ingestão diária de calorias, de tal forma que pode conduzir a uma perda de peso significativa se o padrão se mantiver durante um período mais extenso de tempo.
A pesquisa ocorreu através de um ensaio clínico que decorreu com 80 participantes escolhidos de forma aleatória. Todos os indivíduos apresentavam excesso de peso e com períodos curtos de sono, inferiores a seis horas e meia — um período que é apontado pelos especialistas como um risco acrescido de obesidade. O objetivo da pesquisa era perceber precisamente se aumentar o período de sono poderia mitigar o risco, numa experiência que durou quatro semanas no total, sendo que as duas primeiras serviram para recolher informação essencial relacionada com o sono e o consumo calórico.
Alguns dos participantes beneficiaram de acompanhamento e aconselhamento relacionado com o sono — tendo em vista o seu melhoramento —, o que resultou no prolongamento do seu sono noturno em uma hora e vinte minutos, ao passo que os restantes continuaram com os seus hábitos antigos, constituindo, assim, o grupo de controlo. Esta fase decorreu nas duas semanas finais, nas quais todos os indivíduos dormiram nas suas próprias camas e os sonos foram monitorizados com dispositivos que foram adicionados aos seus corpos. Simultaneamente, continuaram com as mesmas dietas e estilos de vida.
“A maioria dos outros estudos sobre este assunto são curtos, durante apenas alguns dias, e a comida ingerida é medida pela quantidade de consumo dos participantes no que respeita a uma dada dieta oferecida”, descreveu Esra Tasali. “No nosso estudo, apenas manipulamos o nosso, com os participantes a comerem qualquer comida que quisessem, sem registos alimentares ou mapas para rastrear a nutrição.”
Os cientistas envolvidos usaram um método conhecido como “água duplamente rotulada” para medir com precisão o gasto energético de cada participante — uma técnica desenvolvida na década de 1980 e que pressupunha beber água na qual as moléculas de oxigénio de hidrogénio foram substituídas por isótopos estáveis que podem ser facilmente rastreados à medida que são expulsos do corpo, permitindo a medição de cada caloria queimada.
“Este é considerado o principal padrão para medir objetivamente o gasto diário de energia num ambiente não-laboratorial, do mundo real, e mudou a forma como a obesidade humana é estudada”, descreveu o autor Dale Schoeller.
De acordo com o site New Atlas, a hora e vinte minutos a mais de sono originou um decréscimo do consumo de comida entre os indivíduos, com alguns a comer menos 500 calorias por dia. Em média, a intervenção levou a uma redução de 270 calorias ingeridas diariamente, o que acabou por originar um défice entre os participantes — embora durante um curto período de tempo.
Esra Tasali ressalvou que este não é um estudo sobre “perda de peso”. “Mas mesmo em apenas duas semanas, temos provas quantificadas que mostram uma diminuição da ingestão calórica e um balanço energético negativo — a ingestão calórica é inferior às calorias queimadas. Se os hábitos de sono saudáveis forem mantidos durante mais tempo, isto levaria a uma perda de peso clinicamente importante ao longo do tempo. Muitas pessoas estão a trabalhar arduamente para encontrar formas de diminuir a sua ingestão calórica para perder peso — bem, só dormir mais, poderá resultar substancialmente”.
Ainda assim, permanecem as questões sobre o porquê do aumento da duração de sono ter consequências ao nível da diminuição das calorias. Os autores relembram que os estudos sobre as restrições de sono sugerem que alterações às hormonas reguladoras do apetite e centros de recompensa no cérebro podem conduzir a uma sobrealimentação após um sono limitado. Esperam, por isso, explorar os mecanismos subjacentes aos efeitos do sono prolongado através de mais estudos.
“Nos nossos primeiros trabalhos, percebemos que o sono é importante para a regulação do sono”, explicou Tsali. “Agora mostramos isso na vida real, sem qualquer alteração ao estilo de vida, pode-se prolongar o sono e comer menos calorias. Isto pode ajudar as pessoas que estão a tentar perder peso.”