Esta é a primeira demonstração de que um cérebro não humano pode diferenciar línguas diferentes.
De acordo com um novo estudo de imagiologia cerebral, publicado em dezembro no jornal Neurolmage, realizado por investigadores do Departamento de Etologia da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, os cérebros dos cães podem detetar a fala e mostrar diferentes padrões de atividade a línguas familiares e desconhecidas.
Esta é a primeira demonstração de que um cérebro não humano pode diferenciar duas línguas. Laura V. Cuaya, autora principal do estudo, mudou-se há alguns anos do México para a Hungria, para prosseguir a sua investigação de pós doutoramento.
“O meu cão, Kun-kun, veio comigo. Antes, só tinha falado com ele em espanhol. Por isso, perguntava-me se Kun-kun reparava que as pessoas em Budapeste falavam uma língua diferente, o húngaro” explica Laura Cuaya.
Segundo a autora do estudo, sabe-se que as pessoas e mesmo os bebés que ainda não falam notam a diferença entre as línguas.
“Mas talvez os cães não se incomodem com isso. Afinal de contas, nunca chamamos a atenção dos nossos cães para o som de uma língua específica”, diz a investigadora. “Assim, concebemos um estudo de imagiologia cerebral para o descobrir”.
De acordo com a Phys.org foram usados 18 cães para este estudo, incluindo o cão de Cuaya, Kun-kun. Os animais foram treinados para ficarem imóveis num scanner cerebral, onde ouviram excertos do livro “Principezinho” em espanhol e húngaro.
“Todos os cães tinham ouvido apenas uma das duas línguas dos seus donos, por isso, desta forma, pudemos comparar uma língua altamente familiar com uma língua completamente desconhecida“.
Os cães também puderam ouvir uma versão mais mexida destes excertos, que não lhes é habitual, para testar se detetam a diferença entre a fala e a não fala.
Ao comparar as respostas do cérebro à fala e à não fala, os investigadores encontraram padrões de atividade distintos no córtex auditivo primário dos cães. Esta distinção existia independentemente de os estímulos terem origem na língua familiar ou desconhecida.
Contudo, não havia provas de que os cérebros dos cães tivessem uma preferência neural pela fala em detrimento da não fala.
Raúl Hernández-Pérez co-autor do estudo, explica que os cérebros dos cães, tal como os dos humanos, podem distinguir entre a fala e a não fala.
Mas o mecanismo subjacente a esta capacidade de deteção da fala, pode ser diferente da sensibilidade à fala dos humanos, porque enquanto o cérebro humano está especialmente sintonizado com a fala, os cérebros caninos podem simplesmente detetar a naturalidade do som.
Para além da deteção da fala, os cérebros dos caninos também podem distinguir entre duas línguas, neste caso espanhol e húngaro.
Estes padrões de atividade específicos da língua, foram encontrados noutra região do cérebro, o córtex auditivo secundário. E curiosamente, quanto mais velho era o cão, melhor o seu cérebro distinguia entre a língua familiar e a língua desconhecida.
De acordo com Hernández-Pérez, “cada língua é caracterizada por uma variedade de regularidades auditivas. As nossas descobertas sugerem que durante as suas vidas com humanos, os cães captam as regularidades auditivas da língua a que estão expostos”.
Attila Andics, também autor do estudo, afirmou que esta investigação demonstrou pela primeira vez que um cérebro não humano pode distinguir duas línguas. “É emocionante, porque revela que a capacidade de aprender sobre as regularidades de uma língua não é exclusivamente humana”.
Ainda assim, não se sabe se esta capacidade é exclusiva nos cães, ou se existe também noutras espécies.
Mas é possível que as mudanças cerebrais dos cães, devido à convivência de milhares anos com os humanos, os tenham tornado melhores ouvintes de línguas.