O exercício físico tem mais benefícios para a saúde do que a perda de peso – e pode ser determinante para uma vida mais longa

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Um elemento comum a muitos dos indicadores de saúde é o facto de todos serem traduzidos em números. Quiçá o mais badalado do ponto de vista social, o peso é também o mais valorizado quando a questão é saúde e longevidade, daí que seja rapidamente monitorizado pelos profissionais de saúde pouco depois de os pacientes entrarem no consultório — seguindo-se questões como a tensão arterial e os batimentos cardíacos.

Por um lado, este controlo faz sentido. A comparação dos números com o de períodos anteriores permite estabelecer uma evolução. Por outro, nem por isso. Esta foco no peso pode levar as pessoas a achar que o peso é tão importante como o bom estado do coração ou o correto funcionamento dos vasos sanguíneos – e que a perda de alguns quilos poderá ter um impacto positivo a longo prazo.

Tal como ressalva o site WebMd, a perda de peso pode ser benéfica, mas deverá ter ser tratada como milagrosa e uma prioridade para todos os “obesos”, condição que afeta atualmente três quartos dos adultos norte-americanos?

Glenn Gaesser, doutorado e professor em Ciência do Exercício na Universidade do estado do Arizona, considera que a mensagem da perda de peso – ou do emagrecimento – há muito que tem vindo a falhar. Mais: Gaesser está entre o grupo crescente de especialistas que acredita que o emagrecimento pode não ser a mudança mais importante na procura por um estilo de vida mais saudável. Isto pode ser ainda mais verdade se se comparar os benefícios da perda de peso com os que resultam da prática de exercício físico, tal como mostra um estudo científico recente.

A perda de peso intencional, muitas vezes motivada por dietas, é frequentemente associada, em trabalhos académicos com menores riscos de morte, em função de várias causas, sendo os efeitos mais fortes entre os que sofrem de obesidade ou de diabetes tipo 2. No entanto, o novo estudo traz uma novidade curiosa: a quantidade de quilos perdidos não parece alterar os riscos de morte, o que deixa em evidência a seguinte pergunta: se o peso é um problema, por que é que nos mais afetados pelo seu excesso não beneficiam mais quando perdem alguns quilos?

Glenn Gaesser mostra-se cético perante a ideia de que os benefícios médicos da perda de peso sejam inteiramente ou maioritariamente causados por um valor mais baixo na balança. Na realidade, muitos estudos científicos colocam o ónus também no exercício físico e nos componentes da dieta – sobretudo para efeitos da redução da probabilidade de morte. “Os benefícios médicos do exercício  e de uma alimentação saudável são maioritariamente independentes da perda de peso”, descreve Gaesser.

Esta constatação pode ser especialmente fiável para o exercício físico e para uma maior esperança de vida. De acordo com a mesma fonte, a prática de exercício físico regular pode diminuir o risco de morte por qualquer causa entre 15% a 50% e o risco de morte por doença cardíaca para mais de 40%. A mudança pode ser ainda mais significativa se o indivíduo fizer exercício suficiente para melhor a sua resistência cardíaca.

No entanto, a chave também parece estar na consistência, isto é, na prática regular de exercício – em semelhança do que acontece com as dietas -, mas também a conjugação de outros fatores, já que a perda de peso não provém exclusivamente da prática de exercício. O corpo humano tem a capacidade de rapidamente recuperar as calorias gastas durante a prática de exercício, nomeadamente através da desaceleração do metabolismo. Por outro lado, a prática de exercício também pode resultar num aumento de apetite.

“Se uma pessoa começa um programa de exercício físico com um objetivo específico de perda de peso, essa pessoa rapidamente vai perceber que existe uma grande diferença entre o seu valor atual e o que pretende atingir”, explica Gaesser. Como tal, “muitos indivíduos desistem apenas por frustração“.

Por este motivo, o especialista considera muito importante que as pessoas finalmente percebam a importância de uma vida ativa para a vitalidade a longo prazo, mas também que os profissionais de saúde encorajem mais os seus pacientes para praticarem exercício físico, pela sua saúde mas também para uma vida mais longa. Ainda assim, reconhece que esta pode ser uma “solução” difícil de vender quando se elimina a consequência da perda de peso da equação.

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