Investigadores acreditam que o futebol se está a tonar mais previsível e uma das justificações que encontram para este facto é a iniquidade entre os clubes mais ricos e os mais pobres.
Ao longo dos anos, os resultados dos jogos de futebol têm-se tornado cada vez mais previsíveis, com alguns programas e modelos informáticos a conseguirem mais de 75% de resultados acertados. Num estudo científico divulgado recentemente, foram analisadas 87,816 partidas de 11 ligas europeias diferentes e realizadas entre 1993 e 2019.
Para efeitos de pesquisa, os investigadores introduziram num modelo de computador dados relativos aos resultados dos jogos anteriores, de forma a conseguir que a tecnologia conseguisse prever se seria a equipa da casa ou a visitante a superiorizar-se à adversária nas partidas a contar para os campeonatos nacionais — de fora ficaram os jogos delineados por sorteio, o que equivale a cerca de um terço a um quarto dos encontros.
“O nosso modelo não é o mais rigoroso“, explicou Taha Yasseri da Universidade de Dublin à New Scientist. “Tenho a certeza que há modelos melhores, mas é muito simples, basta recuar 26 anos e fazer as previsões como se estivéssemos nesse período. A média de resultados AUC — a qual mede o grau de fiabilidade do modelo — foi de 0,75, o que significa que o modelo acertou em 75% das previsões que fez.
Através do estudo também foi possível concluir que sete das 11 ligas analisadas registaram um aumento da previsibilidade ao longo do tempo, sendo que o programa também revelou uma maior (e melhor) capacidade em antever os resultados das principais e ligais, como é o caso da Premier League ou a La Liga – em oposição, por exemplo, à primeira divisão belga.
A investigação também determinou uma correlação entre a previsibilidade no que respeita à distribuição de pontos entre as equipas no final da temporada – isto é, o programa teve mais facilidade em acertar nos resultados quando existiam menos pontos a separar as equipas que competem nesse mesmo campeonato.
Como tal, os investigadores acreditam que o futebol se está a tonar mais previsível, precisamente porque a iniquidade entre os clubes mais ricos e os mais pobres, considerando, por exemplo, os prémios monetários envolvidos e os lucros arrecadados, o que permite, a alguns, contratar jogadores com mais qualidade.
Outra das conclusões do estudo — publicado no Royal Society Open Science — remete para a diminuição do efeito “casa”, já que desde 1993 e até 2019 se registou uma diminuição de dois terços para 58% das vitórias das equipas da casa no campeonato francês.
Para Joey O’Brien, da Universidade de Limerick, na Irlanda, os autores do estudo descrito usam argumentos estatísticos rigorosos de que o futebol se tem vindo a tornar mais previsível. “Talvez, num âmbito mais filosófico, os indivíduos podem questionar-se se tiram tanto prazer de observar equipas talentosas a ter prestações tão previsíveis”.