Uma rara pintura do século XVII, que retrata uma mulher negra com a sua companheira branca, está temporariamente proibida de ser exportada para reduzir o risco de a obra de arte sair do Reino Unido.
Segundo a CNN, a pintura – descrita como “extremamente rara” pelo Department for Digital, Culture, Media & Sport – está avaliada em 270 mil euros. O bloqueio dura até dia 9 de março, a menos que um algum colecionador do Reino Unido compre a obra.
Intitulada Allegorical Painting of Two Ladies, English School (“Pintura Alegórica de Duas Senhoras, Escola de Inglês”), a obra representa uma mulher negra com a sua companheira branca. Ambas usam roupas, joias, maquilhagens e penteados semelhantes.
No anos 1650, era muito invulgar uma ama negra ser retratada numa pintura, pelo que a obra representa um “importante debate sobre raça e género durante aquele período”, segundo o comunicado do Governo britânico.
O quadro é único também pelo facto de ambas as mulheres estarem a usar “adesivos de beleza”, uma espécie de adorno cosmético facial na moda durante o século XVII.
O estilo da obra correlaciona-se com as populares xilogravuras da época, a arte de se fazer gravuras em madeira, o que significa que a composição é alegórica e está ligada a versos satíricos, sermões e panfletos.
Stephen Parkinson, ministro das Artes do Reino Unido, decidiu bloquear a exportação desta obra numa decisão que contou com a ajuda do Comité de Revisão da Exportação de Obras de Arte e Objetos de Interesse Cultural (RCEWA), um organismo independente que oferece conselhos imparciais sobre objetos que são de importância nacional para o país.
“Esta fascinante pintura tem tanto para nos ensinar sobre a Inglaterra no século XVII, nomeadamente sobre raça e género, duas áreas que continuam a atrair a atenção e a investigação”, disse o governante.
“Espero que se possa encontrar uma galeria ou museu no Reino Unido que compre esta pintura para a nação, para que muito mais pessoas possam fazer parte da contínua investigação e discussão sobre a mesma”, acrescentou.
O comunicado revela que a pintura não é um retrato de pessoas reais, mas “uma imagem moralizante que condena o uso de cosméticos, especificamente adesivos de beleza elaborados, que estavam em voga na época”.
“Embora não se distingam artisticamente, o seu imaginário relaciona-se de forma fascinante com os estereótipos contemporâneos das mulheres, a moda, e, através da justaposição das figuras, a raça”, realça a nota dos membros do RCEWA Pippa Shirley e Christopher Baker.
“O facto de ter surgido apenas recentemente e de poder ser utilizada para explorar aspetos importantes da cultura negra na Grã-Bretanha do século XVII, torna particularmente importante que permaneça neste país para que o seu significado possa ser amplamente estudado e compreendido”, rematam os investigadores.
A tradução de “English School”, deverá ser Escola Inglesa e não escola de inglês (que não faz sentido). Ou seja, (segundo creio) é uma pintura executada por um artista desconhecido, sabendo-se apenas que será inglês, pupilo ou não de um mestre inglês.