O canto das baleias relaxa-o? Em breve poderá fazer duetos com elas

Os cientistas estão apostados em decifrar o conteúdo dos cantos das baleias, de forma a garantir um contacto inter-espécie. Mas será que elas responderão de volta?

Ao longo dos anos, o barulho emitido pelas baleias tem merecido a atenção de biólogos e apaixonados da vida marinha que tentam utilizar todos os mecanismos disponíveis para decifrar a mensagem escondida nos chamados canto das baleias – será que lhe podemos chamar assim? Agora, este objetivo pode estar mais perto de ser concretizado graças a um projeto intitulado Cetacean Translation Initiative. Para além da tradução dos grunhidos, os envolvidos garantem que, através dos avanços feitos, a comunicação entre os humanos e baleias a ser mesmo uma possibilidade – a qual começou a ser aprimorada por Shafi Goldwasser e David Gruber, cientista de computadores e biólogo marinho, respetivamente.

O objetivo? Começar por descodificar os barulhos emitidos por estes mamíferos para, posteriormente, estabelecer ligação com eles, ou seja, criar uma ligação com retorno. Um dos pontos de partida foi precisamente uma conversa entre Shafi Goldwasser e David Gruber, na qual discutiam as similitudes entre os estalidos emitidos pelos cachalotes e o código Morse. De seguida, a dupla uniu-se ao também cientista informático Michael Bronstein, que introduziu a ideia de usaram Inteligência Artificial para analisar um sem fim de gravações recolhidas de comunicações entre cachalotes, de forma a encontrar padrões comparáveis à fala. Um dos pontos mais interessantes da investigação prende-se com a discussão dos limites que separam a linguagem da comunicação e se a última pode realmente existir quando não estão envolvidos humanos.

Numa entrevista ao site IFLScience, Valerie Vergara abordou este ponto. Tendo dedicado grande parte da sua carreira académica ao assunto, o que fez dela uma especialista na comunicação de baleias (mesmo das mais tagarelas), Vergara relembra que é um dado já conhecido da ciência que as baleias bebés palram — à semelhança dos bebés humanos — para aprender a vocalizar e até comunicar com os seus pais. Como tal, um dos trabalhos da cientista centra-se precisamente no reconhecimento dos traços vocais únicos das baleias, os quais serão primordiais para perceber se elas falam e se essas comunicações se equiparam a uma conversa (com emissor, mensagem e recetor).

É na parte respeitante à análise das falas entre os mamíferos que vivem em contexto aquático, tarefa que requer a processamento de muita informação, que a Inteligência Artificial (IA) entra em jogo. Modelos de linguagem como o GTP-3 conseguem terminar uma frase interrompida através da aprendizagem do conteúdo que ficou para trás, mas as falhas são recorrentes. Qual seria, então, a alternativa?

De acordo com a mesma fonte, é necessário, para já, ensinar à IA o vocabulário das baleias — para já, os programas conhecem apenas 100 mil “codas” — termo em inglês que designa o equivalente a palavras humanas mas em linguagem de baleias. No que respeita às palavras humanas, estão registadas cerca de 175 mil milhões. O passo seguinte seria aumentar consideravelmente o número de gravações de cantos das baleias, de forma a que a rede neural de IA possa ser treinada adequadamente.

Ainda assim, e apesar de todos os avanços feitos, não é possível ter a certeza que as baleias respondam, ou o façam sequer de forma simpática. Podemos habilitar sempre a ouvir qualquer coisa como “Deixem-nos em paz“.

ZAP //

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