Uma nova análise dos dados da sonda Cassini mostrou o que pode estar a acontecer dentro de Saturno para que este planeta tenha um campo magnético tão estranho.
De acordo com o site Science Alert, os campos magnéticos planetários são (geralmente) gerados dentro dos planetas, por um efeito chamado dínamo: um fluido condutor de eletricidade em rotação e convecção que converte energia cinética em energia magnética. No caso de Saturno, o seu é quase perfeitamente simétrico em torno do seu eixo de rotação.
Como este campo magnético foi muito bem caracterizado pela sonda Cassini, uma equipa de cientistas da Universidade Johns Hopkins decidiu usar os dados obtidos para tentar fazer a engenharia reversa – através de poderosas simulações de computador – do que está a acontecer no interior do planeta.
“Uma coisa que descobrimos foi o quão sensível o modelo era a coisas muito específicas, como a temperatura. Isso significa que temos uma sonda realmente interessante no interior profundo de Saturno até 20 mil quilómetros de profundidade. É uma espécie de visão de raio-X”, afirmou a física planetária Sabine Stanley.
Os investigadores também confirmaram um conceito que já não é novo. Com as temperaturas e pressões encontradas dentro de Saturno, gases como o hidrogénio e o hélio tornam-se líquidos. Em profundidades menores, o hélio pode separar-se, formando uma camada estável em que chove para dentro em direção ao núcleo planetário.
Isto, de acordo com um estudo publicado em 2015, pode explicar porque é que o interior de Saturno é mais quente do que o esperado.
No limite dessa camada de hélio, o fluxo de calor muda de acordo com a latitude. As latitudes equatoriais são muito mais quentes e as temperaturas nas regiões polares em latitudes altas são muito mais baixas.
Curiosamente, os modelos da equipa também mostraram que, apesar da aparente simetria axial quase perfeita do campo magnético nas observações, pode haver um pouco de simetria não axial – menos de 0,5% – nos pólos, a região onde os dados da Cassini são mais fracos.
O estudo foi publicado, a 5 de maio, na revista científica AGU Advances.