O “caso das máscaras” está a assombrar o partido de Merkel em plena pandemia

Clemens Bilan / EPA

O escândalo que envolve deputados que pertenciam ao bloco conservador da chanceler alemã ocorre num momento infeliz, já que no próximo domingo serão realizadas eleições estaduais em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado.

O Partido Cristão-Democrata Alemão e o seu aliado bávaro estão a tentar colocar um ponto final no “caso das máscaras”, no qual dois parlamentares – Georg Nüsslein (CSU) e Nikolas Löbel (CDU) – estão envolvidos. Os partidos exigem que os seus membros declarem os benefícios recebidos.

Os deputados deverão provar que, em 2020 e 2021, não receberam nenhum benefício económico, diretamente ou através de uma empresa, pela compra ou venda de produtos médicos, segundo uma carta enviada pelos líderes do grupo parlamentar CDU-CSU.

“Como membros do Bundestag, consideramos que temos uma responsabilidade especial para garantir o bem comum. Isso é especialmente certo numa crise como a atual pandemia. A má conduta de alguns indivíduos não deve descredibilizar todo o grupo parlamentar”, escreveram Ralph Brinkhaus (CDU) e Alexander Dobrindt (CSU).

Os deputados receberam, direta ou indiretamente, comissões de centenas de milhares de euros pela compra de máscaras e foram expulsos dos seus partidos. Löbel renunciou ao cargo no Bundestag, enquanto Nüsslein afirmou que não se apresentará para a reeleição nas legislativas de 26 de setembro.

O “caso das máscaras” levou à abertura de investigação por fraude e corrupção por parte da procuradoria de Munique e buscas a domicílios de vários deputados.

Os deputados da oposição anunciaram também que vão questionar a chanceler alemã, Angela Merkel, e o seu ministro das Finanças, Olaf Scholz, sobre o seu envolvimento no caso da empresa de sistema de pagamentos Wirecard – uma outra polémica que está a abalar o prestígio da coligação governamental.

A Wirecard pediu proteção contra credores, através de um processo de insolvência apresentado em junho passado, depois de ter admitido que 1,9 mil milhões de euros, alegadamente mantidos em contas nas Filipinas, afinal não existem.

Agora, os deputados do Parlamento alemão criaram uma comissão de inquérito para investigar o escândalo da Wirecard, anunciando que vão querer ouvir a chanceler e o ministro Scholz, que é um potencial sucessor de Merkel numa candidatura à chefia do Governo, nas eleições de setembro.

A oposição acusa as autoridades de supervisão de terem sido negligentes na monitorização da atividade da Wirecard, menosprezando relatórios que denunciavam irregularidades na atividade daquela empresa há pelo menos cinco anos.

“Nós, na Alemanha, temos uma cultura de não responsabilidade, de apenas tentar perceber quem tem jurisdição e quem não tem jurisdição, sem pensar o suficiente sobre os problemas essenciais”, disse Florian Toncar, um deputado do Partido Democrata Livre.

Merkel enfrentará perguntas sobre o seu esforço de pressão para a entrada da Wirecard no mercado chinês, durante uma viagem a Pequim em 2019.

Toncar também acusa Scholz de não ter cumprido a promessa de reformar a agência de supervisão financeira na Alemanha, permitindo que este género de falhas de controlo possa suceder com frequência.

ZAP // Lusa

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