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Extinção da fauna em Madagáscar pode dever-se à presença humana (e a mudanças climáticas)

Grande parte da fauna de Madagáscar e das ilhas Mascarenhas foi eliminada durante o último milénio. Neste sentido, uma equipa de cientistas analisou um registo do clima nos últimos 8000 anos nas ilhas. O resultado mostrou um ecossistema que tem sofrido com as mudanças climáticas e com o aumento da presença humana.

Quase toda a fauna de Madagascar – incluindo o famoso pássaro Dodo, lémures do tamanho de um gorila, tartarugas gigantes e o pássaro elefante que tinha 3 metros de altura e pesava quase meia tonelada – desapareceu entre os últimos 500 e 1500 anos.

As ilhas Mascarenhas a leste de Madagascar são de especial interesse porque estão entre as últimas ilhas do planeta a serem colonizadas pelo homem. Curiosamente, a sua fauna caiu apenas alguns séculos depois da colonização do homem.

A questão que os especialistas fazem é se estes animais foram vítimas de caça até à sua extinção pelos humanos, ou se eles desapareceram por causa das mudanças climáticas. Existem inúmeras hipóteses, mas a causa desta queda na fauna permanecia discutível.

Agora, num estudo publicado na Science Advances em outubro, uma equipa de investigadores internacionais descobriu que a causa da extinção era provavelmente um “golpe duplo”, respondendo assim à questão que tem sido colocada por inúmeros especialistas. A extinção nas ilhas deve-se não só à presença de atividades humanas, como a um período particularmente severo a nível climático, que pode ter condenado a fauna.

Para este estudo, o professor Hanying Li, da Universidade Xi’an Jiaotong na China, reuniu detalhes sobre as variações climáticas na região. A fonte primária deste registo do clima veio da pequena ilha Mascarene de Rodrigues, no sudoeste do Oceano Índico, e que se situa a aproximadamente 1600 km a leste de Madagascar.

Hanying Li e a sua equipa observaram os registos climáticos analisando os oligoelementos, e isótopos de carbono e oxigénio de cada camada de crescimento incremental de estalagmites que recolheram numa das muitas cavernas da pequena ilha.

De acordo com Christoph Spötl, também autor do estudo, as “variações nas assinaturas geoquímicas forneceram as informações necessárias para reconstruir os padrões de precipitação da região nos últimos 8000 anos. Para analisar as estalagmites, usamos o método do isótopo estável no nosso laboratório em Innsbruck. ”

No seguimento dos resultados, Hai Cjheng – co-autor do estudo – explica que “apesar da distância entre as duas ilhas, as chuvas de verão em Rodrigues e Madagascar são influenciadas pela mesma chuva tropical global que oscila ao norte e ao sul com as estações. E enquanto esta chuva permanecer mais ao norte de Rodrigues, as secas podem atingir toda a região de Madagascar ”.

“A pesquisa na ilha de Rodrigues demonstra que o hidroclima da região experimentou uma série de tendências de seca ao longo dos últimos 8 milénios”, observa Hubert Vonhof, cientista do Instituto Max Planck de Química em Mainz, e co-autor.

A tendência de seca na região começou há cerca de 1500 anos, numa época em que os registos arqueológicos começaram a dar sinais do aumento da presença humana na ilha, revela o portal SciTechDaily.

“Embora não possamos dizer com 100% de certeza que a atividade humana foi a culpada pela extinção da fauna na região, os nossos registos paleoclimáticos mostram que a fauna sobreviveu a todos os episódios anteriores”, ressalva Ashish Sinha, professor de ciências da terra na California State University Dominguez Hills, EUA.

O estudo lança uma nova luz sobre o desaparecimento da flora e da fauna das ilhas de Maurício e Rodrigues. “Ambas as ilhas tivessem sido rapidamente despojadas de espécies, incluindo o conhecido pássaro Dodo não voador de Maurício, e a tartaruga gigante de Rodrigues”, acrescenta Aurele Anquetil André, diretor da Reserva da Tartaruga e Caverna François Leguat em Rodrigues.

Segundo os investigadores que realizaram o estudo “aquilo que os dados mostram é a resiliência e adaptabilidade dos ecossistemas e da fauna das ilhas em episódios ​​de mudanças climáticas severas, até estas serem atingidas por atividades humanas e mudanças climáticas – as duas em conjunto são fatais”.

ZAP //

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