Martín trocou o carrinho no qual vendia bebidas por um cheio de livros

La Carreta Literaria Leamos / Facebook

Martín Roberto Murillo, fundador da “Carreta Literaria”

O colombiano Martín Roberto Murillo decidiu trocar o carrinho no qual vendia bebidas, pelas ruas do centro histórico de Cartagena, por um cheio de livros.

Foi a 23 de maio de 2007 que Martín Roberto Murillo decidiu dar o passo que faltava para deixar de ser vendedor de bebidas e começar a promover o gosto pela leitura e pelos livros. Nesse dia, nascia o projeto “La Carreta Literaria” (“O Carrinho Literário”).

Numa entrevista à rede de televisão estatal russa RT, Martín explica que queria “ser um homem mais útil para a sociedade” e compara-se com o pescador Santiago, o protagonista do seu livro preferido: “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.

“Santiago é um homem com quem me identifico: pobre, que parece não ter aspirações, mas que pesca, luta contra as adversidades e tem olhos invictos”, declara.

Martín, 52 anos, frequentou a escola até ao quinto ano e recorda-se de ler desde que era criança, mas “não com este fervor” dos dias de hoje. Quando vendia bebidas, nas ruas de Cartagena, era reconhecido como o vendedor ambulante que estava sempre a ler.

Em 2002, ao vender-lhe uma garrafa de água, o colombiano conheceu a pessoa que o ajudaria a dar outro rumo à sua vida. Estamos a falar de Jaime Abello, diretor da Fundação Gabo que, na altura, ainda se chamava Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Ibero-Americano (FNPI).

Um ano depois, e já lá vão 17, Martín começou a trabalhar com a fundação, onde diz ter conhecido “os melhores professores de jornalismo em Espanhol e em Português” e onde participou em vários workshops com pessoas conceituadas da área.

Em 2007, Martín apresentou a sua ideia da “Carreta Literaria” – um carrinho cheio de livros para chegar a praças e centros educacionais – ao empresário Raimundo Angulo, presidente do Concurso Nacional de Beleza da Colômbia, que decidiu apoiar o projeto.

Questionado sobre como consegue manter-se com esta iniciativa sem fins lucrativos, o colombiano explica que tentou imitar a Fórmula 1. “Tenho uma série de patrocinadores e de marcas no carrinho, e isso permite-me desenvolver o meu projeto.”

Martín e o seu carrinho visitam, de segunda a sexta-feira, escolas básicas e secundárias e também universidades. Aos fins-de-semana, dá-se a conhecer noutros munícipios de Bolívar, um dos 32 departamentos deste país sul-americano.

Agora, com a chegada do novo coronavírus, o colombiano teve de adaptar o seu projeto, mas diz não ter parado um único dia. “Gravo contos através do WhatsApp para enviar aos professores para que estes possam encaminhar os áudios às crianças”, conta ao RT.

Além disso, o seu canal de YouTube tem mais de cem vídeos gravados, nos últimos meses, com histórias infantis e comentários sobre obras de escritores mundiais.

Quando fala sobre o seu trabalho, Martín diz que não é um crítico literário. “Sou um promotor da leitura: poesia, narrativa, conto, crónica e até livros de superação pessoal. O livro é um amigo que nunca nos falha. Não há maus livros, há, sim, leitores apáticos.”

ZAP //

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