O Reino Unido e os Estados Unidos (EUA) acusaram a Rússia de testar uma arma anti-satélite no espaço, o último sinal de que a corrida armada espacial está a aumentar, revelou na quinta-feira o Guardian.
De acordo com o general John Raymond, chefe da nova Força Espacial dos EUA, citado pelo jornal britânico, o suposto teste de um projétil, realizado em 15 de julho, é “mais uma evidência dos esforços contínuos da Rússia para desenvolver e testar sistemas espaciais, consistente com a conhecida doutrina dos militares do Kremlin em empregar armas para manter os ativos espaciais americanos e aliados em risco”.
Segundo o responsável, no início deste ano, o projétil terá sido lançado a partir de um dos dois satélites russos que operavam perto de um satélite norte-americano. Embora a Rússia tenha sublinhado que as suas exercícios espaciais são pacíficos, Raymond explicou que as atividades da sonda envolvida no lançamento eram inconsistentes com sua a designação oficial, que a identificava como um satélite de inspeção.
Um comunicado do Comando Espacial dos EUA disse que a Rússia realizou uma “atividade em órbita” semelhante em 2017, uma referência a uma arma anteriormente lançada por satélite pelos russos, operação que não havia sido relatada.
O chefe da diretoria espacial do Reino Unido, Harvey Smyth, indicou: “Estamos preocupados com a maneira como a Rússia testou um dos seus satélites, lançando um projétil com as características de uma arma”.
“Ações desse tipo ameaçam o uso pacífico do espaço e podem causar detritos que representem uma ameaça para os satélites e os sistemas espaciais dos quais o mundo depende. Apelamos à Rússia para evitar mais testes desse tipo. Também instamos a Rússia a continuar a trabalhar de forma construtiva com o Reino Unido e outros parceiros para incentivar o comportamento responsável no espaço”, referiu.
Não há casos registados de testes dessas armas anti-satélite lançadas no espaço por outros países. Tanto os EUA como a China destruíram os seus satélites com defeitos, através de mísseis lançados a partir do mar e da terra, respetivamente. Contudo, a maior parte das atividades militares no espaço é altamente secreta.
“Não quero especular sobre o que os EUA fazem ou não fazem”, disse Tom Karako, diretor do projeto de defesa antimísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais norte-americano. “Acho justo dizer que honramos as expectativas de boa conduta e espaço melhor do que alguns dos nossos rivais”.
De acordo com uma reportagem da Time, divulgada na quinta-feira, o satélite militar russo Kosmos 2542 foi lançado a partir do Plesetsk Cosmodrome, em 26 de novembro, e 11 dias depois originou um segundo satélite, o Kosmos 2543.
Em janeiro, esses dois satélites aproximaram-se de um satélite de vigilância militar dos EUA, o KH-11, considerado tão poderoso ao nível resolução de imagem quanto o telescópio espacial Hubble. Os dois satélites russos afastaram-se a pedido dos EUA. Seis meses depois, acredita-se que o Kosmos 2543 tenha disparado um projétil para o espaço.
“O meu argumento aqui é: não é novo. A novidade é que a força espacial está a inclinar-se para a frente e fala-se sobre o que está a acontecer”, disse Karako. “Os russos estão bastante dispostos a conduzir essas provocações abertamente no espaço, assim como estão no terreno”.