Há mais de 65 milhões de anos, aves de centenas de espécies diferentes voavam sobre as florestas. Mas, depois do cataclismo que destruiu a maioria dos dinossauros, apenas um grupo de aves sobreviveu.
O mistério é exatamente esse: porque é que apenas uma família sobreviveu? A descoberta de um fóssil de um dos grupos extintos, “primos” das aves de hoje, aprofunda o enigma.
O fóssil com 75 milhões de anos, de um pássaro do tamanho de um perú, é o esqueleto mais completo descoberto na América do Norte dos chamados “enantiornitinos”, ou “oposto de aves” – assim chamados porque os ossos das suas patas são formados de maneira diferente nas aves modernas.
Descoberto em 1992 na área de Grand Staircase-Escalante, no Utah, pelo paleontólogo Howard Hutchison, da Universidade da Califórnia, o fóssil permaneceu relativamente intacto no Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, até que a estudante de doutoramento Jessie Atterholt o começou a estudar em 2009.
Os dois investigadores colaboraram com Jingmai O’Conner, especialista em enantiornitina, para analisar o fóssil. Com base no seu estudo, publicado a 13 de novembro na revista PeerJ, os enantiornitinos do final do período Cretáceo eram extremamente semelhantes aos ancestrais das aves de hoje, capazes de voar com agilidade.
“Sabemos que as aves no início do Cretáceo, há cerca de 115 a 130 milhões de anos, eram capazes de voar, mas não eram tão bem adaptadas como as aves modernas“, disse Atterholt. “O que este novo fóssil mostra é que os enantiornitinos desenvolveram algumas das mesmas adaptações para estilos de voo avançados altamente sofisticados”.
O osso do peito do fóssil, onde os músculos do voo se ligam, é mais profundamente desgastado do que outros enantiornitinos, o que implica um músculo maior e um voo mais forte, mais semelhante aos pássaros modernos. Em forma de V, o osso é mais semelhante ao dos pássaros modernos, ao contrário do osso com a forma de U dos pássaros anteriores.
“Esta ave em particular tem cerca de 75 milhões de anos, cerca de 10 milhões de anos antes do cataclismo”, referiu a investigadora. “Uma das coisas misteriosas sobre os enantiornitinos é que os encontramos em todo o Cretáceo, durante cerca 100 milhões de anos de existência, e foram muito bem sucedidos“.
Fósseis de enantiornitinos são encontrados em todos os continentes. Em muitas áreas, são mais comuns que o grupo que levou às aves modernas”, afirmou Atterholt. “No entanto, as aves modernas sobreviveram e os enantiornitinos foram extintos”.
Uma hipótese recentemente proposta argumenta que os enantiornitinos viviam na floresta, por isso, quando a área florestal ficou envolta em fumo depois da queda do asteróide que sinalizou o fim do Cretáceo e dos dinossauros não-aviários, estas aves também desapareceram. Muitos enantiornitinos têm fortes garras curvadas, ideais para se empoleirarem e escalar.
“Acho que é uma hipótese realmente interessante e a melhor explicação que ouvi até agora”, disse Atterholt. “Mas precisamos de fazer estudos rigorosos sobre a ecologia dos enantiornitinos, porque, de momento, esta parte do quebra-cabeças não é explícita“.
ZAP // Phys