A turbulência continua a ser um dos mistérios da Física que intriga os cientistas. Talvez a única solução seja mesmo perguntar a Deus.
Quem costuma viajar de avião, certamente já teve de lidar com a sensação desagradável de passar por uma zona de turbulência. Apesar de ser algo comum, a verdade é que este fenómeno continua a ser para muitos cientistas um dos mais importantes mistérios da Física que continuam por ser desvendados.
“Quando me encontrar com Deus, vou fazer-lhe duas perguntas: porque é que a relatividade é tão complexa e como é que se explica a turbulência. Tenho a certeza que Deus terá resposta para a primeira”.
Atribuída a cientistas de renome, entre eles o físico quântico alemão Werner Heisenberg e o matemático britânico Horace Lamb, esta frase é, porém, de autoria desconhecida. Mas uma coisa é certa: reflete com precisão a complexidade que este fenómeno esconde.
Qual seria a melhor palavra para descrever uma turbulência? Caos.
Complexa e importante…
No fundo, este fenómeno é o movimento desordenado de um fluido. As suas moléculas não seguem trajetórias paralelas, mas formam turbilhões. Também pode ser definida como um estado de agitação.
“É o tipo de fluido em movimento mais comum, mais importante e mais complicado”, afirmou o engenheiro aeronáutico britânico, Peter Bradshaw, num livro que escreveu sobre este assunto em 1971.
Décadas depois, não há ainda muitas mais informações do que havia nesta época e, ainda hoje, muitos cientistas concordam com Bradshaw.
“A turbulência existe numa série de eventos naturais e produzidos pelo Homem, desde correntes oceânicas e atmosféricas até àquelas que circulam num radiador”, afirmam Alexander Smith, professor de engenharia aeroespacial na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e Ivan Marusic, professor de engenharia mecânica da Universidade de Melbourne, na Austrália, num artigo publicado na revista científica Physics Today.
“Tem efeitos no clima, nos níveis de poluição, nas alterações climáticas e no design de dispositivos de propulsão, turbinas de energia eólica, corações artificiais e sistemas de irrigação”, dizem os especialistas.
…e também imprevisível
O movimento feito pela água à volta do pilar de uma ponte que atravessa um rio com uma forte corrente é um exemplo perfeito de turbulência. As moléculas na água começam a bater no pilar e, por sua vez, contra si mesmas. Uma série de movimentos é então produzida com uma variedade de direções e velocidades.
A energia gerada neste caso provoca mudanças imprevisíveis, e essa característica dificulta a compreensão deste fenómeno.
“A análise de movimentos que não podem ser previstos e a interação de um número infinito de partículas é muito difícil de modelar. Até mesmo os recursos tecnológicos mais modernos não conseguiram resolver os mistérios da turbulência”, afirma Alasdair Wilkins num artigo para a revista Ciência Inversa.
Os anos passam e os segredos deste fenómeno continuam a fascinar os cientistas. Será que algum dia vão conseguir decifrá-los? Ou vão ter mesmo que perguntar a Deus?
ZAP // BBC