Polícia de Manchester processa duas mulheres com doenças mentais por causar transtorno no trânsito enquanto tentavam o suicídio

Andy Rain / EPA

A Polícia da Grande Manchester (GMP), no Reino Unido, decidiu dar seguimento à sua decisão de processar duas mulheres que sofrem de doentes mentais, depois de estas terem sido indiciadas por causaram congestionamento no trânsito enquanto tentavam o suicídio. Ambas foram condenadas.

Embora a GMP tenha afirmado que faria uma revisão aos casos e que uma acusação do género “raramente seguia para uma ação contra alguém com uma condição de saúde mental”, as acusações podem ser apropriadas caso a pessoa realize várias tentativas de suicídio, causando obstrução repetida, informou na quarta-feira o Guardian.

Num dos casos julgados, uma jovem de 18 anos teve que ser convencida por um agente da polícia a desistir da tentativa de suicídio, a 27 de abril. Devido ao incidente, uma auto-estrada teve que ser fechada por cerca de 20 minutos, com um total de 16 agentes no local. Esta foi a sexta vez que ameaçou tirar a sua vida no mesmo local.

A jovem declarou-se culpada de causar incómodo público. Como atenuante, o seu advogado contou que esta estava de luto pela morte da mãe, da avó e do tio – que morreram em 2018 – e que sofria de um “distúrbio de personalidade instável”. A mesma havia saído recentemente de um hospital onde foi internada por um incidente de auto-flagelação, tendo estado em tratamento durante grande parte do ano passado.

Os magistrados condenaram-na a realizar trabalho comunitário durante 12 meses, alertando-a de que causara “enormes inconvenientes”. A jovem foi também condenada a pagar 200 libras (cerca de 227 euros) em custas e taxas.

Noutro incidente, decorrido em janeiro, uma mulher de 27 anos – que havia desaparecido de uma unidade psiquiátrica depois de uma discussão por causa de medicação – seguiu para a mesma auto-estrada, informou o Manchester Evening News (MEN).

Esta semana, foi condenada por andar ilegalmente na via, tendo que pagar 105 libras (aproximadamente 119 euros) em custas e taxas, que serão deduzidas nos seus benefícios estatais, antes de ser enviada novamente para a mesma unidade psiquiátrica.

O tribunal ouviu que, embora a mulher tenha causado a desaceleração dos carros que passavam na auto-estrada, “não colocou mais ninguém em perigo”.

“Apoiar os mais vulneráveis ​​é uma prioridade para a Polícia da Grande Manchester. Trabalhamos em estreita colaboração com os nossos parceiros para garantir que as pessoas com condições de saúde mental sejam assistidas da maneira mais apropriada e apontadas na direção dos serviços que podem fornecer a ajuda de que mais precisam”, disse um porta-voz da GMP.

“Infelizmente, há uma ocorrência cada vez mais regular de ameaças de suicídio na rede de auto-estradas. Todos os incidentes são tratados caso a caso e uma acusação raramente é são raras as ações contra pessoas com problemas de saúde mental. Conversamos com os nossos colegas no serviço de triagem de saúde mental e tivemos em consideração as suas orientações antes de decidirmos sobre a ação mais apropriada”, referiu.

E acrescentou: “Se uma acusação foi solicitada, a probabilidade é de que tenham havido vários incidentes anteriores, dos quais participamos e fizemos um curso diferente de ação”.

Segundo Alison Cobb, conselheira política da organização de caridade mental Mind, os agentes da polícia geralmente são os primeiros a chegar ao local quando alguém está a passar por uma crise de saúde mental e tem que lidar com situações desafiadoras de forma rápida e calma.

“É muito importante que qualquer pessoa que lute com pensamentos ou ações suicidas seja tratada com sensibilidade, compaixão, dignidade e respeito, em vez de ser criminalizada”, frisou.

Há dez anos, um homem em Londres foi levado a julgamento depois de ser retirado de uma ponte ferroviária pela polícia. Michael Finnegan, então com 26 anos, foi processado por invasão de propriedade e enfrentou uma multa de 24 mil libras (27 mil euros), destinada a reembolsar a empresa de comboios pelos lucros perdidos.

O caso acabou por ser descartado e o jovem foi levado para um hospital psiquiátrico para receber tratamento. Depois do incidente, fundou uma instituição de caridade na área da saúde mental e agora dá palestras para encorajar os homens a serem abertos sobre os seus sentimentos.

TP, ZAP //

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