O toque dos sinos no Norte de Itália tornou-se motivo de discórdia – e os eurodeputados já foram chamados a resolvê-la

Primeiras divisões começaram a surgir na primavera de 2020, durante o primeiro confinamento motivado pela pandemia da covid-19.

A pequena cidade italiana de Dolina é atualmente palco de uma disputa popular que já envolveu eurodeputados, não os italianos, mas os eslovenos. Em causa está uma tradição local, segundo a qual os sinos da igreja de Sant’Ulderico tocavam para ritmar os dias da comunidade eslovena, avisando os seus constituintes para o início da missa, para as celebrações festivas, para funerais ou para simplesmente indicar as horas.

Acontece que os outros habitantes da cidade, na fronteira entre os dois países não concordam com o ritual, queixando-se das badaladas “altas e excessivas”. O descontentamento foi tal, que, após uma pedição pública, um juiz nas proximidades de Triteste decidiu pela remoção dos sinos, numa decisão sem precedentes.

“Foram aplicadas multas às paróquias italianas se os sinos forem demasiado barulhentos, mas estes nunca foram confiscados”, explicou o padre Klemen Zalar. “Esta reação foi um pouco pesada demais.” A disputa causou divisões profundas entre a população 4,800 habitantes, nomeadamente com acusações pessoais.

O descontentamento terá escalado na primavera de 2020, durante o confinamento provocado pela pandemia da covid-19, com a situação a tornar-se incomportável para alguns residentes que passavam a totalidade dos seus dias em casa.

“Era bam-bam, bam-bam o dia todo”, descreveu Mauro Zerial, organizador da petição, que conseguiu reunir 1350 assinaturas entre segunda-feira e domingo. “Começava às 6h da manhã, com 70 badaladas para a Ave Matia, depois sete às 7h e depois a cada 15 minutos até mais uma longa badalada para o início da missa. Era louco. Mas ninguém quis que os sinos fossem silenciados, só queriam que eles operassem consoante as normas. E, de forma alguma, isto constitui um ataque contra as tradições eslovenas.

Tal como nota o The Guardian, Dolina, situada na região semi-independente de Friuli-Venezia Giulia, fez parte do império Austro-Húngaro até ser anexada por Itália depois da primeira guerra mundial. Atualmente, alguns dos habitantes falam esloveno e possuem dupla nacionalidade. Para o padre Klemen Zalar, a frequência com que os sinos tocavam é semelhante à das igrejas na Eslovénia.

Em 2019, o sistema teve uma avaria provocada por uma tempestade, mas o padre esclarece que as badaladas nunca foram excessivas. O clérigo também fez saber que terá havido mal-entendidos na recolha das assinaturas, com algumas pessoas a assinar a petição acreditando que estavam a fazê-lo tendo em vista o concerto dos sinos.

A chegada do problema aos eurodeputados aconteceu devido ao descontentamento da comunidade eslovena, que recorreu aos seus representantes. “A minoria eslovena está protegida por leis especiais de forma a que a sua identidade e costumes nacionais possam ser preservadas. Estas leis incluem os rituais religiosos”, descreveu Ljudmila Novak, eurodeputada.

“Perguntamos à comissão de que forma irá actuar para eliminar a interferência desproporcionada na liberdade religiosa e na tradição cultural numa área onde vive a comunidade nacional eslovena”.

O toque dos sinos foi permitido pelo juiz no final de janeiro, ainda que com uma ordem para que a sua utilização fosse restringida. O silêncio também prevalece à medida que a igreja se esforça por elaborar um horário para os sinos, de acordo com as novas regras.

ZAP //

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