Um novo estudo confirma em grande parte o modelo de Kieffer, que defende que estas “aranhas” são criadas pelos ciclos sazonais de aquecimento e arrefecimento em Marte.
Durante anos, os cientistas foram cativados por misteriosas formações na região polar sul de Marte, apelidadas de “aranhas”. As imagens mostram estruturas que se assemelham a aranhas gigantes na superfície do planeta, suscitando intriga e curiosidade.
A teoria que prevalece por detrás destas formações é conhecida como o modelo de Kieffer, cujo nome deriva do cientista que o propôs. De acordo com esta hipótese, as chamadas aranhas formam-se devido aos ciclos sazonais de aquecimento e arrefecimento em Marte.
Durante a primavera marciana, a luz solar penetra nas camadas de gelo translúcido do planeta, retendo o calor e provocando o aquecimento do regolito, ou solo, por baixo do gelo. Este calor leva à sublimação do gelo de dióxido de carbono, que se transforma diretamente em gás. À medida que o gás acumula pressão sob o gelo, escapa-se de forma explosiva, esculpindo os padrões em forma de aranha e enviando plumas de poeira e gás para o céu.
Um estudo recente publicado no The Planetary Science Journal procurou testar este modelo em laboratório. Liderada pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, na Califórnia, a equipa recriou as condições adversas, frias e de baixa pressão de Marte, utilizando uma câmara especialmente concebida para o efeito, denominada Dirty Under-vacuum Simulation Testbed for Icy Environments (DUSTIE).
Através de ensaios repetidos, a equipa conseguiu reproduzir o processo de aquecimento, provocando a explosão de plumas de gás e poeira, muito semelhantes às de Marte. A semelhança foi tanta que a súbita libertação de gás assustou a equipa do laboratório, que pensou que tinha ocorrido um acidente.
Embora a experiência tenha apoiado largamente o modelo de Kieffer, também revelou novas complexidades. Os investigadores observaram que as fissuras e formações criadas nos seus testes pareciam ser influenciadas pela sublimação do gelo no regolito, e não apenas pela libertação de gás por baixo do gelo. Isto sugere que o processo de erosão por jatos de CO2 em Marte pode ser mais complexo do que se pensava.
As descobertas sugerem que outras caraterísticas da superfície de Marte, tais como terrenos poligonais e sulcos de areia, podem também ser criadas por este mecanismo. No entanto, será necessária mais investigação para confirmar estas hipóteses e aprofundar a nossa compreensão dos processos geológicos únicos de Marte.