Destroços em todo o lado e substância potencialmente tóxicas. A nave espacial da SpaceX foi mais do que uma espantosa queda nas ilhas Turcas e Caicos.
O Sol já se tinha posto no dia 16 de janeiro quando uma nave espacial se transformou numa bola de chamas sobre o Oceano Atlântico Norte, perto das Ilhas Turcas e Caicos, no Oceano Atlântico, acima da República Dominicana.
Era a nave espacial Starship da SpaceX a explodir. A Starship e o Super Heavy, da empresa de Elon Musk, são os maiores e mais potentes foguetões alguma vez construídos.
“Nunca vi cores assim no céu”, disse à CNN Lori Kaine, moradora de Providenciales, a principal ilha do arquipélago de Turcas e Caicos. “No início, pensei que era um avião a explodir”. Kaine recorda um barulho ensurdecedor.
Conta que, mais do que uma queda espetacular, a explosão da Starship causou vestígios que provocaram consequências na sua própria vida.
Um cabo misterioso tinha caído na sua entrada, bem como uma espécie de ladrilhos hexagonais partidos, provavelmente parte do escudo térmico da Starship.
“Pensei, ‘OK, isto é de loucos’ – porque os pedaços da Starship estão nas estradas da ilha e na praia”, recorda.
Foram encontrados destroços da nave em todas as praias de Providenciales, bem como “de South Caicos a West Caicos, o que abrange essencialmente a totalidade dos Caicos Banks”, em vários pontos turísticos e mesmo nas casas de pessoas, disse Alizee Zimmermann, diretora executiva da associação Turks and Caicos Reef Fund.
Está também a ser investigado “um relatório de danos menores a um veículo localizado em South Caicos”.
A SpaceX — ao contrário da NASA e de alguns dos concorrentes na indústria aeroespacial — adota uma estratégia designada por “desenvolvimento iterativo rápido“, explica a CNN, que faz com que a empresa aceite os riscos riscos acrescidos durante os voos de teste.
“Gosto dos lançamentos e do que o CEO da SpaceX, Elon Musk está a fazer, mas acho que ele também devia ser responsável pela limpeza“, comentou também à televisão americana Amos Luker, proprietário de uma empresa de aluguer de automóveis em Providenciales. Garante ainda que “não tem havido grandes avisos” em relação ao potencial risco dos lançamentos.
“Estamos apenas a tentar fazer um apelo para que, pelo menos, nos ajudem a financiar a limpeza que está a ser feita por voluntários”, acrescentou Zimmermann.
Kaine calcula que agora haja “cerca de 91kg” de detritos na sua coleção, guardados em sacos de lixo etiquetados com o local onde recolheu os detritos. E ainda há muito mais por recolher nas praias. Há detritos que dão à costa vindos dos oceanos.
“Os objetos espaciais podem por vezes conter materiais perigosos que podem causar sérios danos à saúde“, aponta ainda no Facebook o Secretariado de Segurança Nacional das Turcas e Caicos, num aviso em que se recomenda aos residentes que não toquem nos destroços.
A hidrazina, por exemplo, é um tipo de propulsor utilizado em algumas naves espaciais que pode causar náuseas, vómitos, inflamação dos nervos e até coma após a exposição.
“Qualquer tipo de combustível vai ter uma grande quantidade de energia química no seu interior”, diz Marlon Sorge, diretor executivo do Centro de Estudos de Detritos Orbitais e de Reentrada da The Aerospace Corporation.
“Mesmo que não seja tão perigosa como a hidrazina, se lhe tocarmos ou nos aproximarmos dela, ficamos em apuros – continua a ser volátil, como a gasolina“, acrescentou. “E há outras coisas a bordo das naves espaciais, como as baterias“.
Acrescentou ainda que é possível que tanques de combustível de foguetões inteiros sobrevivam à queda. “Se estiverem enfraquecidos, se lhes tocarmos, explodem“.
Agora, os habitantes pedem ajuda: “tudo isso requer muita coordenação e uma boa quantidade de financiamento — e ambos são limitados aqui”.