Os Neandertais portugueses faziam banquetes de caranguejo (dos grandes) há 90 mil anos

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Johannes Krause / Museum of the Krapina Neanderthals

Gruta da Figueira Brava, em Sesimbra, foi o palco de descobertas sobre os nossos antepassados. Caranguejos entravam vivos na gruta.

O consumo de pequenas presas por hominídeos tem sido muito discutido nas últimas décadas.

Têm surgido cada vez mais evidências que pequenas presas, como moluscos, faziam parte das dietas dos hominídeos durante o Paleolítico Médio e até antes.

É aqui que entra a Gruta da Figueira Brava, em Sesimbra, que foi o palco de uma descoberta.

A equipa de investigadores liderada por Mariana Nabais, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES-CERCA, verificou que havia restos de pequenas espécies de caranguejos e equinodermos no local.

Estima-se que este espaço terá sido ocupado e utilizado por Neandertais há cerca de 90 mil anos. “No fim do Último Interglacial, os neandertais reuniam regularmente grandes caranguejos“, comenta Mariana Nabais em comunicado.

Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado esta semana na revista Frontiers in Environmental Archaeology.

De acordo com o estudo, animais completos eram trazidos para o local, vivos, e só dentro da gruta eram assados em brasas e depois abertos para serem ingeridos.

“Levavam os caranguejos para poças na costa rochosa próxima, procurando animais adultos com uma largura média de carapaça de 16 centímetros”, explicitou a investigadora.

O tamanho dos caranguejos foi estimado calculando o comprimento da carapaça em relação às pinças, que tendem a ficar melhor preservadas ao longo do tempo.

Os arqueólogos viram que os caranguejos tinham padrões de fracturas intencionais, que sugerem que foram abertos para ser devorados. Os hominídeos escolhiam sobretudo os animais mais graúdos – a maioria dos crustáceos era de adultos grandes, que renderiam cerca de 200 gramas de carne.

Além disso, a equipa concluiu que aqueles animais não foram mortos por outros predadores, porque não havia sinais de carnívoros ou marcas de roedores.

Estima-se que os neandertais tenham colhido os caranguejos em poças de maré baixa, durante o Verão.

Ainda entravam vivos na gruta mas, depois, foram cozidos a cerca de 300 a 500 ºC. Cerca de 8% das cascas dos animais tinham queimaduras.

Não se sabe se os caranguejos tinham alguma simbologia, alguma importância especial. Mas, na prática, os caranguejos terão sido muito bons, a nível nutritivo.

“Ajudámos a desconstruir a noção obsoleta de que os neandertais eram habitantes primitivos das cavernas que mal conseguiam sobreviver com carcaças de grandes animais”, disse Nabais.

ZAP //

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