A honestidade é uma boa política. Mas, no domínio das emoções, é importante pensar em todas as consequências para a qualidade da relação.
O conteúdo desta partilha, logo a começar pelo título, pode ser inaceitável para alguns leitores; pode ser compreensível para outros.
Susan Krauss Whitbourne, professora de psicologia, deixa a pergunta no portal Psychology Today: quando é que mentir ao parceiro é boa ideia?
Por princípio, para algumas pessoas ser honesto é sempre o melhor caminho.
Também por princípio, para algumas pessoas, a mentira justifica-se em dois contextos: ao preparar uma surpresa e ao não querer “afundar” a outra pessoa quando ela já está afundada emocionalmente.
No entanto, há outras vertentes que devem ser analisadas.
Por exemplo, se mostrar raiva quando tem raiva, está a ser sincero, vai sentir-se melhor… mas vamos criar uma discussão, provavelmente.
Noutro sentido, se mostrar felicidade quando está feliz, pode haver nova discussão se estiver feliz com algo que irrita o parceiro.
É em casos como estes que a psicóloga sugere: e que tal uma abordagem enganosa e fingisse que a falha do parceiro não é problema algum e até a desvalorizasse? E se não mostrar felicidade quando, na verdade, está feliz pelo seu cunhado não aparecer para jantar? Mente. Mas evita discussão.
Expressão de emoção
Num estudo publicado há poucas semanas, foi testada a questão do engano emocional e das relações em situações em que as pessoas negoceiam por um determinado resultado.
Tal como nos negócios, uma pessoa pode colocar a “máscara” de raiva para conseguir uma determinada compensação. Nem que seja algo pequeno, como evitar que repita colocar os sapatos no meio do corredor; finge-se raiva, irritação extrema, para a outra pessoa não repetir o gesto.
Mas aí entra um dilema: se não mostrar raiva, a falha do outro pode repetir-se; se mostrar raiva a mais, e se o parceiro se aperceber, não voltará a confiar em si (fica a sensação imediata de manipulação, o que não é bom).
Neste estudo, uma questão central foi: numa discussão/negociação, como é que uma pessoa se sente em relação a uma pessoa que mostra felicidade porque está genuinamente feliz, e como se sente em relação a uma pessoa que mostra felicidade mas que, na verdade, está irritada.
Quem sairia por cima: a pessoa mentirosa ou a pessoa honesta?
Os efeitos de mentir no salário
No estudo em causa, os participantes online negociavam ofertas de salário com um avatar que ou fingia, ou mostrava, as suas emoções honestas.
Numa das experiências, aparece um empregado irritado mas que diz que está feliz com a oferta. No contexto honesto, o empregado sentia e expressava felicidade.
O estudo mostrou que esconder a raiva era a melhor estratégia.
Os participantes sentiram que o empregado que fingia felicidade estava a fazer mais um sacrifício do que os empregados que estavam felizes e disseram que estavam felizes.
Foi um sacrifício do mentiroso, mas que lhe trouxe uma vantagem: o empregado mentiroso recebeu uma melhor oferta do que o empregado cuja felicidade era genuína.
Os autores do estudo sugerem que quem está a apresentar ofertas de salário consegue perceber se a pessoa interessada está realmente satisfeita com o que está a ouvir. Quando as pessoas escondem a sua raiva, estão a sinalizar mais “foco na relação” e “menos motivação egoísta” – algo que é valorizado pelo empregador.
Voltando às outras relações
Parece que a raiva é melhor escondida do que expressa. Mas o seu parceiro provavelmente será capaz de ler as suas emoções para saber como se está realmente a sentir.
Quando ficar irritado por ver sapatos da outra pessoa no meio do corredor, pode tentar disfarçar a sua raiva – mas o parceiro vai reparar nisso e, muito provavelmente, até vai apreciar o seu esforço para manter a harmonia.
Ou seja, mais uma vez: uma mentira, um sacrifício, mas relação mais calma.
No entanto, se continuar a fazer isso, vai começar a “remoer” por dentro. Estar sempre a desvalorizar erros do outro acumula ressentimento interno – e pode originar esgotamento emocional.
Em resumo, completa a especialista em psicologia: “A honestidade pode ser uma boa política, mas no domínio das emoções, é importante considerar os eventuais resultados na qualidade da sua relação”.
Disfarçar a sua raiva pode compensar no momento, “a quente”; mostra o quanto se preocupa com o seu parceiro. Mas, a longo prazo, a honestidade deverá ser a melhor política; a comunicação é essencial no cumprimento de responsabilidades.