Se for só a mãe a dar “nota negativa” à parentalidade, o impacto na criança é praticamente nulo, revela um estudo.
Depois de uma criança nascer, na maioria dos casais o assunto deixa de ser o casal.
A esposa deixa de perguntar ao marido quando vão passear a Turim. O marido deixa de perguntar à esposa a que concerto quer ir no mês seguinte.
Acabam os jantares a dois, começam as noitadas para os dois. Por causa do bebé que chegou.
O assunto passa a ser o bebé. Depois a criança, depois o adolescente, depois o adulto.
Quando alguém se torna mãe ou pai, isso fica para sempre. Para quem nunca teve filhos, não se pense que o filho só é o foco nos primeiros anos de vida. É eterno, em princípio.
E, mesmo nas tais conversas entre mãe e pai, os assuntos giram muito à volta disto: “Tu estiveste bem ao gritar com ele? Tu foste uma boa mãe ao deixá-la fazer aquilo?”.
Pode ser involuntário ou inconsciente, mas em muitos caso(ai)s, deixa de haver diálogos entre esposa e marido; agora quase só há conversas entre mãe e pai.
E, apesar de involuntária ou inconsciente, é constante a avaliação na função de “co-pais”, na parentalidade.
Isso afecta a criança. Como uma mãe e um pai olham um para o outro, como co-pais, tem impacto no bem-estar de uma criança.
O estudo que reforça esta perspectiva foi publicado na revista Child Development. Envolveu quase 3 mil casais de baixo rendimento em sete estados dos EUA. Todos com um filho de, no máximo, 5 anos de idade.
Se a relação de coparentalidade é positiva, as crianças ficam bem. Se essa relação é moderada, não há grandes diferenças. Se só a mãe tem uma visão mais negativa da parentalidade do que o pai, a criança também não costuma ser afectada.
Quando é que o impacto negativo é maior na criança? Quando um pai acha que a relação de co-parentalidade é má, que não está a resultar.
E, claro, se mãe e pai acham que não estão a funcionar bem como pais, a criança também é prejudicada. Sobretudo em casais com rendimentos mais baixos, de acordo com a equipa da Universidade de Ohio, EUA.
As crianças que crescem sob bons e eficazes relacionamentos de co-parentalidade normalmente têm menos problemas de comportamento e melhores relações com os outros.
Isto era a base que estudos anteriores mostravam – mas esses estudos só olhavam para famílias brancas de classe média e, mais do que isso, só averiguava as perspectivas das mães sobre o assunto.
Schoppe-Sullivan, professora de psicologia e principal autora do estudo, comentou: “Co-pais com melhores relações fornecem apoio emocional um ao outro e apoiam as decisões parentais um do outro”, descreveu, citado no portal Neuroscience News.
Método e resultados
Nesta análise diferente de anteriores, os pais classificaram a sua “função”, descreveram como estava a funcionar a relação de parentalidade entre os adultos.
Um ano e meio depois, as mesmas mães e os pais voltaram a falar com esta equipa da Universidade de Ohio (EUA) para descrever os comportamentos e as competências da criança.
As respostas, nesses dois momentos, fizeram com que os investigadores dividissem os participantes em quatro grupos.
A maioria (43%) via a relação como positiva, dos dois lados. Outros (32%) tinham relação moderada, mas a mãe estava mais pessimista do que o pai. Como já foi mencionado, as crianças nestes dois grupos não apresentavam problemas significativos.
Depois, em 16% dos casais a relação era moderada mas o pai dava classificação pior do que a mãe. Por fim, os restantes 9% tinham relação má, na visão de mãe e pai.
Nestes dois grupos, os filhos tinham mais problemas a nível comportamentos e competências sociais.
Claro que se levanta a questão: porque há está diferença nas crianças quando o pai tem uma visão pior da parceira e da própria relação? Schoppe-Sullivan não consegue dar uma resposta concreta, mas considera que este estudo mostrou que pais com problemas psicológicos eram mais propensos a estar no grupo de “pais menos positivos”.
Quando os pais são mais “angustiados”, há a tendência para serem afastados dos deveres parentais por parte da mãe. E isso deve originar mais problemas psicológicos e eles ficam menos felizes com o seu papel de co-pais. E podem “apontar o dedo” à parceira.
Aí, surgem “mais conflitos entre os pais, mais desacordo nas decisões dos pais e menos envolvimento positivo entre pais e filhos”, descreveu a professora de psicologia, Schoppe-Sullivan.
Quando as mães são menos positivas do que os pais, isso pode indicar que as mães sentem que os pais não estão a contribuir o suficiente para a educação dos filhos. Mas, como essa visão é habitual, há menos conflitos entre os pais.
A última conclusão, e global, por parte da autora do estudo: os profissionais que trabalham com mãe e pai podem ter de prestar atenção especial quando os pais são menos positivos do que as mães sobre o papel de pais.
(artigo actualizado às 7h53 do dia 23 de Março)