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Cada vez mais empresas oferecem férias ilimitadas (e isso pode correr mal)

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Se a ideia de férias sem limite de tempo pode parecer demasiada boa para ser verdade, é porque provavelmente é — havendo mesmo quem considere que esta nova tendência prejudica mais do que ajuda os funcionários.

“Gostaria de poder dizer que se trata de uma questão de produtividade, empoderamento ou autonomia, mas a verdade é que vimos algumas empresas nos Estados Unidos a implementar a medida e pensámos que poderíamos fazer o mesmo”, diz Ben Gately, diretor de operações da empresa de software britânica CharlieHR.

Gately implementou há sete anos o sistema de férias ilimitadas para os funcionários da CharlieHR, com a intenção de posicionar a empresa “na vanguarda das melhores práticas de gestão” de recursos humanos.

Férias pagas sem limite de dias é um benefício cada vez mais comum nos EUA, onde principalmente as empresas tecnológicas usam o sistema para atrair e reter trabalhadores.

No Reino Unido, as agências de recrutamento estão a registar um número crescente de empresas a aderir à tendência, com um aumento de 20% na oferta de emprego com férias ilimitadas entre 2017 e 2018. Os sites de recrutamento TotalJobs e Jobsite, por seu turno, registaram um aumento anual de 10%.

Mas a nova tendência, como é frequente, não tem bons resultados para todos.

A britânica Frankie Parkinson, funcionária da Gradtouch, conta à BBC que a sua empresa implementou o sistema com o objetivo de criar uma política de gestão de recursos humanos verdadeiramente flexível. O ano passado, Frankie tirou 30 dias de férias.

“Enquanto todos cumprirem o seu trabalho e os negócios estiverem bem, é muito bom podermos ir de férias quando quisermos”, diz. “Houve um aumento na produtividade, e as pessoas progrediram mais rapidamente, porque há confiança e muita responsabilidade. Os funcionários assumem os objetivos da empresa porque têm flexibilidade e porque confiamos neles”, acrescenta Parkinson.

Rosie Haslem, diretora da empresa de arquitetura Spacelab, concorda com Parkinson sobre os benefícios da tendência. “O trabalho é apenas parte da vida, mas na indústria do design, pode ser uma grande parte, com jornadas de trabalho muito intensas”, explica.

“Eliminámos os limites de férias, permitindo que a nossa equipa aproveite o tempo necessário para relaxar e recarregar baterias. A flexibilidade criou uma força de trabalho mais capacitada, mais feliz e mais produtiva“, acrescenta Haslem.

Férias a menos

A lgumas das empresas que adotaram o sistema, no entanto, acabaram por não ver os funcionários tirar demasiadas férias — pelo contrário. Para os funcionários da CharlieHR, por exemplo, as férias ilimitadas são um problema, não uma vantagem.

“Eles sentem medo de tirar férias, porque precisam de cumprir prazos e entregar aos outros, os chefes ou colegas, as coisas em que estavam a trabalhar”, explica Ben Gately. “Há muita ansiedade quando não sabemos qual é o limite. Parte da equipa veio ter connosco a pedir-nos que lhes disséssemos qual era afinal o limite”.

“Havia perguntas do tipo Está tudo bem se eu tirar 35 dias de férias? E se eu estiver 25 dias sem trabalhar? Qual é o máximo?”, conta Gately. “A realidade é que as férias ilimitadas não são realmente ilimitadas”, conclui.

Joe Wiggins, especialista em tendências de trabalho da Glassdoor, empresa que oferece férias ilimitadas aos funcionários nos Estados Unidos, mas não no Reino Unido, concorda que as “férias ilimitadas podem tornar-se muito restritivas“.

“Na região da baía de São Francisco, na Califórnia, este é um benefício comum. Mas as  férias ilimitadas não significam necessariamente que muitas pessoas tiram muitas férias”, diz. “Essa prática é mais comum em empresas com objetivos e métricas claras, ainda que às vezes possa ser difícil tirar dias de folga neste tipo de ambientes de trabalho”.

“Muitas empresas estão a testar políticas de trabalho flexíveis, tentando perceber o que funciona melhor com a sua força de trabalho, mas para muitas pessoas, ter um pacote de férias ilimitadas não é exatamente o que parece“, conclui Wiggins.

ZAP // BBC

2 Comments

  1. Exato, é por isso que estas politicas não podem acontecer cá, porque a responsabilidade não existe, nem que a empresa a seguir fosse á falencia.

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