Uma estrela veloz parece estar a fugir da Via Láctea. Não se sabe quem a está a chamar

 

Adam Makarenko / W.M. Keck Observatory

Uma pequena estrela, descoberta a atravessar a nossa galáxia, pode estar numa trajetória que a leve a abandonar a Via Láctea.

Denominada J1249+36, a estrela foi detetada pela primeira vez pelos mais de 80.000 voluntários que participaram no projeto Backyard Worlds: Planet 9, que analisaram os dados recolhidos nos últimos 14 anos pela missão Wide-field Infrared Survey Explorer da NASA.

Segundo o Ciencia Plus, este projeto realça a capacidade dos seres humanos a procurar padrões e detetar anomalias de uma forma que não é igualada pela tecnologia informática.

A estrela destacou-se rapidamente devido à sua velocidade pelo céu, estimada em 2 milhões de quilómetros por hora. A esta velocidade, é suficientemente rápida para sair da gravidade da Via Láctea, pelo que a converte numa estrela com “hipervelocidade”.

Dados espectrais e dados de imagem de vários telescópios terrestres permitiram à equipa medir com precisão a posição e a velocidade de J1249+36 no espaço, e assim prever a sua órbita através da Via Láctea.

“Foi aqui que a fonte se tornou muito interessante, pois a sua velocidade e trajetória mostraram que estava a mover-se suficientemente depressa para potencialmente escapar à Via Láctea”, diz o professor de astronomia e astrofísica, Adam Burgasser.

Os investigadores concentraram-se em explicar a trajetória invulgar da J1249+36 através de dois cenários distintos.

No primeiro cenário, a estrela era originalmente companheira de uma anã branca. As anãs brancas são os núcleos remanescentes de estrelas que esgotaram o seu combustível nuclear e se extinguiram.

“Neste tipo de supernova, a anã branca é completamente destruída, pelo que a sua companheira é libertada e voa à velocidade orbital a que se movia originalmente, acrescida de um pequeno impulso da explosão”, diz Burgasser em comunicado da UC San Diego.

“Os nossos cálculos mostram que este cenário funciona. No entanto, a anã branca já não está lá e os restos da explosão, que provavelmente ocorreu há vários milhões de anos, já se dissiparam, por isso não temos provas definitivas de que esta é a sua origem”, acrescenta.

No segundo cenário, a estrela fazia originalmente parte de um aglomerado globular—um agregado de estrelas ligadas, reconhecíveis pela sua forma esférica distinta.

Os cientistas acreditam que os centros destes enxames contenham buracos negros com uma grande variedade de massas —  eventualmente sistemas binários, que acabam por conseguir atingir quaisquer estrelas que se aproximem demasiado deles.

“Quando uma estrela encontra um buraco negro binário, a dinâmica complexa desta interação de três corpos pode puxar essa estrela para fora do aglomerado globular”, explica o professor e astrónomo, Kyle Kremer.

A equipa de cientistas fez uma série de simulações e descobriu que, em raras ocasiões, estas interações podem expulsar uma sub-estrela de baixa massa de um aglomerado globular, numa trajetória semelhante à observada para a J1249+36.

Para determinar se um destes cenários, ou algum outro mecanismo, pode explicar a trajetória de J1249+36, a equipa analisou mais de perto a sua composição elementar. Quando uma anã branca explode, cria elementos tóxicos que podem ter “poluído” a atmosfera da estrela enquanto esta escapava.

Caso a viagem rápida de J1249+36 se tenha devido a uma supernova, a um encontro com um binário de buracos negros ou a qualquer outro cenário, a sua descoberta oferece uma nova oportunidade para os astrónomos aprenderem mais sobre a história e a dinâmica da Via Láctea.

Soraia Ferreira, ZAP //

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