Os investigadores afirmam ter descoberto novas provas de espécies humanas extintas que viviam em cavernas subterrâneas nos territórios que atualmente ficam na África do Sul.
As descobertas arqueológicas revelam que o ‘Homo naledi’, uma espécie humana pré-histórica, utilizava o fogo para preparar alimentos e navegar na escuridão das cavernas subterrâneas, segundo o paleoantropólogo sul-africano e explorador da National Geographic, Lee Berger.
“Temos provas maciças. Está em todo o lado”, disse Berger, que relatou as descobertas num comunicado e numa conferência de Carnegie Science, em Washington, na semana passada. “Foram descobertos enormes pedaços de carvão vegetal, milhares de ossos queimados, lareiras gigantes e barro cozido”.
De acordo com o Interesting Engineering, apesar de o cérebro ter um terço do tamanho dos humanos, as descobertas sobre as espécies primitivas com um crânio do tipo dos chimpanzés podem alterar a forma como pensamos sobre comportamentos complexos.
Acreditava-se anteriormente que tal conduta só era encontrada em criaturas com grandes cérebros, como os humanos modernos e os Neandertais.
O ‘Homo naledi’ viveu há aproximadamente 230.000 anos, com uma média de 144 centímetros de altura e 40 quilos de peso, de acordo com as novas descobertas. Com ombros semelhantes a um macaco, um cérebro minúsculo – pouco maior que o de um chimpanzé -, e dentes, tinha uma mistura de traços primitivos e contemporâneos.
“Estamos provavelmente a olhar para a cultura de outra espécie”, disse Berger ao Washington Post. “Há uma série de grandes descobertas a sair durante o próximo mês”, disse Berger.
Os movimentos da espécie através da rede de tubos subterrâneos em forma de labirinto no Rising Star, que são completamente escuros e requerem manobras intrincadas através de aberturas na rocha, com apenas 17,5 centímetros de largura, permanecem um mistério.
Devido às passagens estreitas, apenas 47 pessoas, todas de pequena e fina estatura, conseguiram entrar na câmara Dinaledi, onde foram encontrados os primeiros fósseis de ‘Homo naledi’ na última década. Berger, que tem 1,88 metros de altura, decidiu arriscar e entrar no labirinto em agosto deste ano, depois de ter perdido 25 quilos.
Consciente da possibilidade de ficar preso, assumiu o risco. “Quase morri à saída”, admitiu Berger, que notou que o granito na câmara Dinaledi tinha algumas manchas escuras e fuligem quando olhou para cima. “O telhado inteiro da câmara está queimado e enegrecido”, disse.
Keneiloe Molopyane, da Universidade de Witwatersrand, encontrou dois braseiros com ossos de um antílope, queimados a 15 centímetros abaixo do chão, ao mesmo tempo que Berger analisava as cinzas. O investigador descobriu ainda uma torre de rochas queimadas com uma base de cinzas e ossos queimados.
“A capacidade de fazer e usar o fogo mostra-nos finalmente como o ‘Homo naledi’ aventurou-se tão profundamente em espaços perigosos e explica como podem ter movido os seus familiares mortos para tais espaços, algo provavelmente impossível sem luz”, acrescentou Berger.
A descoberta inédita e os novos detalhes sobre a evolução do ser humano despertaram tanto o entusiasmo como o ceticismo na comunidade científica. A escolha de publicar a descoberta num seminário a 01 de dezembro, antes da publicação da investigação científica formal, revelou-se controversa, porque a datação dos ossos carbonizados ainda está a ser feita.
“É impossível avaliar corretamente as alegações de Lee Berger sem ver as provas completas, mas aparentemente isso está para chegar”, disse ao New Scientist Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.
“Com todo o respeito a Lee e às suas equipas por uma série de grandes descobertas, esta não é a forma de conduzir a ciência ou de progredir o debate científico sobre descobertas potencialmente muito importantes”, indicou.
A descoberta, contudo, pode ter fornecido a Francesco d’Errico, da Universidade de Bordéus, em França, informações sobre como ‘Homo naledi’ lidava com os seus mortos e como a sua sociedade foi estruturada.
“Se se demonstrasse que o ‘Homo naledi’ dominava o fogo e o utilizava para ter acesso às áreas mais remotas do sistema de Karst Rising Star, isto poderia ter implicações muito importantes para a interpretação das práticas mortuárias conduzidas no local”, referiu.
“O controlo de uma fonte de luz artificial permite a organização de ações no espaço e no tempo e, no caso de práticas mortuárias, facilita a participação de vários membros do grupo em ações colaborativas e partilhadas”, continuou.
O significado da revelação do uso do fogo é muito mais profundo, de acordo com Berger. Se estes humanos de cérebros pequenos eram capazes de processos sofisticados de pensamento, necessários para criar e gerir o fogo, então “estamos a ver a emergência de um caminho e comportamento cultural que pensávamos, até este momento, ser domínio do [Homo sapiens e Neandertais]”, disse.
Em 2013, dois mergulhadores fizeram a primeira descoberta conhecida do ‘Homo naledi’ quando entraram numa câmara previamente desconhecida, através de uma rota extremamente estreita. Encontraram milhares de ossos fossilizados no chão, o que levou a que o ‘Homo naledi’ fosse classificado como uma nova espécie em 2015.
No entanto, a datação dos seus restos fósseis em 2017 revelou que viveu num período relativamente recente, entre 230.000 e 330.000 anos. Isto sugere que pode ter coexistido com o ‘Homo sapiens’, que surgiu em África há cerca de 300.000 anos.