“Até que a morte nos separe”. Divórcio medieval era decidido em combate

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Hans Talhoffer / Wikimedia

Na época medieval alguns divórcios germânicos eram resolvidos através de combates, nos casos em que não havia testemunhas ou confissões de uma das partes, como se de um julgamento se tratasse. Quem vencia o combate era quem ficava com a razão.

Quando Kenneth Hodges, professor de inglês na Universidade de Oklahoma, descobriu um manuscrito alemão da época medieval sobre regras de combate, ficou surpreendido ao encontrar informação acerca de “divórcios por combate”.

De acordo com o Ancient Origins, o livro em questão é o “Fechtbuch”, de Hans Talhoffer, escrito em 1467, um manual de instruções sobre como os duelos deviam ser conduzidos. A obra trata de diferentes duelos, travados com variadas armas. Mas a secção que chamou a atenção de Hodges foi a dos duelos entre homens e mulheres.

Segundo as regras expostas no livro, o homem era colocado num buraco de um metro de profundidade, com uma mão amarrada atrás das costas, enquanto a mulher podia mover-se livremente. Ambas as partes usavam roupas práticas, um fato de uma só peça com pernas de estribo.

Hans Talhoffer / Wikimedia

A mulher tinha três pedras, envoltas em tecido, que formavam uma espécie de taco. O homem tinha acesso a três tacos normais. Este não podia sair do buraco e, caso tocasse na parede, tinha de entregar um dos seus tacos. Se a mulher o atacasse enquanto ele entregava o equipamento, ela perdia uma das pedras.

Embora as regras colocassem o homem em desvantagem, o artigo lembra que a mulher, provavelmente, não tinha recebido qualquer tipo de treino de combate. Além disso, em qualquer tipo de competição física, normalmente o homem tem mais força. Assim, as desvantagens colocadas ao homem existiam para tornar a luta mais justa.

Alguns historiadores consideram improvável que as lutas se prolongassem até à morte de um dos combatentes, defendendo que os juízes decidiam a quem pertencia a vitória. Contudo, devido aos equipamentos utilizados, acreditam que uma das partes podia acabar por ficar inconsciente durante o duelo.

Os historiadores sugerem também, com base nos desenhos de Talhoffer, que havia formas alternativas de vencer: quando a mulher tirava o homem do buraco ou quando este a arrastava para o local. Existe também a possibilidade de muitos destes duelos serem ganhos quando uma das partes conseguia apanhar a outra parte.

Hans Talhoffer / Wikimedia

No entanto, de acordo com o Ancient Origins, algumas provas mostram que esses duelos podem ter terminado em morte, mesmo que não tenha sido às mãos dos combatentes. Se o homem perdesse, era retirado do buraco e executado na praça da cidade. Se a mulher perdesse, era colocada num buraco e enterrada viva.

O manual de Talhoffer visava dar indicações para combate, não tendo como objetivo estabelecer as regras de um divórcio por essa via. No final do período medieval, o julgamento por combate passou a ser cada vez mais raro e, normalmente, era reservado aos casos criminais nos quais não existiam provas suficientes.

Outros historiadores têm sugerido que os julgamentos por combate entre uma mulher e um homem ocorriam, por exemplo, em casos de violação. Os cristãos da época acreditavam que o vencedor do combate era escolhido por Deus, que “obviamente favoreceria os inocentes”.

Hans Talhoffer / Wikimedia

Outro detalhe é que, nesses combates, a queixosa podia escolher outra mulher para combater no seu lugar.

Em tom de conclusão, o artigo aponta que o julgamento por combate não era um duelo utilizado para resolver desentendimentos, tratando sim assuntos judiciais sérios. As evidências mostram que o julgamento por combate entre homens e mulheres, incluindo o divórcio, existiu em circunstâncias extremas.

Curiosamente, em 2020, um norte-americano do estado do Kansas apresentou uma ação no Tribunal Distrital do Condado de Shelby solicitando que lhe fosse permitido resolver o divórcio através de um julgamento por combate.

Taísa Pagno //

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