A luta pela vida de um bebé prematuro numa incubadora, coberto por eléctrodos, é uma experiência difícil para os seus pais.
Normalmente, eles têm poucos minutos por dia para estar ao lado da criança e vivem uma rotina desgastante, de grande preocupação com a saúde do recém-nascido.
Amenizar este sofrimento foi o objectivo de três italianos – um engenheiro, um médico e uma empresária do ramo têxtil – ao criar uma roupa com um tecido especial capaz de monitorizar os dados cardíacos, respiratórios e de movimentos de bebés recém-nascidos.
“Isso possibilita uma terapia fundamental: a do contacto da pele da mãe com a do filho”, diz Rinaldo Zanini, director da maternidade e coordenador médico da unidade de terapia intensiva neo-natal do hospital da Província de Lecco, no norte da Itália, em entrevista à BBC.
“Mantemos controlo e segurança, mas sem criar uma barreira entre os dois”, conta Zanini.
Fios inteligentes
Os cabos e sensores estão fisicamente presentes na roupa, mas integrados no tecido. É como se os recém-nascidos “vestissem” os eléctrodos.
Feitos de prata, os fios inteligentes são bons condutores de electricidade. “Isso garante boa qualidade do sinal para a monitorização”, afirma o investigador Giuseppe Andreoni, da Universidade Politécnica de Milão.
Ao mesmo tempo, os fios têm uma textura semelhante à da malha de algodão e propriedades anti-bacterianas, evitando alergias no bebé.
No protótipo final, os fios inteligentes foram incorporados na costura das mangas. “Assim, temos a certeza de que estão sempre em contacto com a pele”, explica a empresária Alessia Moltani à BBC.
Um modem preso à roupa transmite por rede sem fios os dados captados pelos sensores. As informações podem ser, então, analisadas num computador, tablet ou telemóvel.
O uso do tecido inteligente diminui o impacto psicológico na mãe, que já está sensível pela gravidez terminada antes de tempo.
Também evita uma terapia incómoda, em que os eléctrodos presos à pele do bebé têm que ser trocados diariamente.
Nos testes efectuados pela equipa italiana, os bebés foram duplamente monitorizados: pelo método tradicional e pela roupa. “Cientificamente, chegámos aos mesmos resultados”, diz Zanini. “Mas o novo tratamento é menos stressante e favorece a descida do leite materno”, afirma Zanini.
Marina Padovan foi uma das mães que aceitou fazer parte da investigação. Chegou à maternidade para um parto prematuro com 32 semanas de gravidez. O seu filho nasceu com 1,340 quilos e ficou um mês e meio no hospital.
“Era difícil ver o meu filho com todos aqueles tubos e fios. Pedia ajuda à enfermeira a cada amamentação”, diz ela, que, por isso, decidiu testar o protótipo da roupa inteligente. “Era melhor tê-lo vigiado, mas no meu colo, sem precisar da ajuda de ninguém.”
‘Start-up’
Há dez anos que a ciência estuda diferentes aplicações destes tecidos electrónicos. O seu uso em roupas de bebés é o mais novo passo deste tipo de tecnologia, que no futuro poderá ser usada também para vigiar idosos.
O projeto nasceu há cerca de quatro anos, na Comftech, uma pequena empresa, na Universidade de Milão. A Comftech hoje faz parte de um grupo selecto de oito empresas da União Europeia que fazem parte do programa do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, dedicado à saúde e prevenção de doenças.
Segundos dados oficiais, nascem cerca de 40 mil bebés prematuros por ano em Itália, o que representa cerca de 7% do total de partos. Nestes casos, a roupa oferece um tratamento mais humanizado.
No entanto, o seu uso caseiro requer atenção. “Não é um instrumento genérico que deva dar uma falsa sensação de segurança aos pais”, avisa Zanini. “A roupa revela situações de crise e perigo, mas é necessário também ensinar os pais a reagir caso ocorra uma dessas situações.”
ZAP / BBC