A menos que sejamos super heróis, não nos conseguimos transformar em tudo o que queremos. Mas as nossas células sim. Recentemente, uma equipa de cientistas descobriu uma forma de transformar uma célula do sangue num neurónio.
Cientistas descobriram recentemente uma forma de transformar uma célula do sistema imunológico num neurónio – duas células com formas e funções totalmente diferentes. A esperança é que esta técnica possa ajudar os investigadores a estudar o cérebro de um paciente a partir de uma simples amostra de sangue.
“O sangue é uma das amostras biológicas mais fáceis de obter”, disse Marius Wernig, professor de patologia da Universidade de Stanford, em comunicado. “Quase todos os pacientes que vão ao hospital deixam lá uma amostra de sangue, que muitas vezes é congelada e armazenada para ser utilizada em estudos futuros”, continua.
As células estaminais – capazes de se transformar em muitos tipos diferente de células – são o caminho escolhido pelos investigadores quando querem criar uma célula qualquer.
Mas, às vezes, outras células que já se diferenciaram ou atingiram o seu estado maduro (isto é, já se transformaram em células da pele ou células do sangue, por exemplo) podem também transformar-se num tipo de célula completamente diferente. A essa transformação, os cientistas dão o nome de transdiferenciação.
Wernig e a sua equipa de cientistas demonstraram, pela primeira vez, a sua técnica de transdiferenciação num estudo publicado na revista Nature em 2010. A equipa conseguiu converteu células da pele de ratinhos de laboratório em neurónios, sem ser preciso transformá-las em células estaminais.
No entanto, as células da pele tiveram que ser cultivadas em laboratório durante algum tempo, e esse processo poderia originar mutações genéticas que alterariam as células de um humano.
Para evitar esse atraso, os cientistas concentraram-se nas células T – glóbulos brancos que desempenham um importante papel no sistema imunológico. Wernig e a sua equipa descobriram que, com a adição de quatro proteínas, as células T conseguiam transformar-se em neurónios do próprio paciente… e num curto período de tempo.
“É chocante ver como é simples converter células T em neurónios funcionais em apenas alguns dias”, disse Wernig. O estudo foi publicado esta segunda-feira na Proceedings of National Academy of Sciences.
“As células T são células imunológicas muito especializadas, com uma forma arredondada simples. O facto de a transformação em neurónios ser tão rápida é surpreendente”, continuou o cientista.
No futuro, esta técnica pode ser utilizada para estudar os neurónios de um paciente com esquizofrenia ou autismo, de modo a entender as origens da doença e identificar possíveis tratamentos.
Ainda assim, os neurónios criados pelos cientistas não podem formar sinapses maduras – espaços entre os neurónios que são necessários para as células se comunicarem umas com as outras. A equipa espera poder melhorar a técnica.
ZAP // LiveScience